Jazz em tempos de quarentena

AmaJazz presta um imenso serviço de utilidade pública, ajudando a tornar o tempo de reclusão menos cansativo e com bastante música. O site perguntou a diversos colaboradores, amigos, amantes e simpatizantes: em tempos de quarentena, qual o melhor disco de jazz para ouvir nesses dias?

Meu disco é Fênix, do Gato Barbieri, porque é preciso renascer.

P.S.: Só três discos foram repetidos – Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, Mingus, de Charles Mingus, Kind of Blue, de Miles Davis, e New Chatauqua, de Pat Metheny.


Bernardo Araujo, jornalista
Para um domingo de quarentena, o Mellow Mood do organista Jimmy Smithmellow só no nome: o pau canta no dueto com a guitarra de Wes Montgomery. Fiquem em casa, ouçam jazz.

Bethy Krieger, pianista
Latin American Songbook, de Edward Simon. Porque acho que é momento de pensar na vida como uma dádiva e a música celebra esta questão.

Bruce Henri, contrabaixista
The Koln Concert, do Keith Jarrett. Uma prova de sublime simplicidade.

Carlos Branco, produtor cultural
Roll Call, do Hank Mobley. Um baita disco, com o saxofonista mais um time formado por Art Blakey (bateria), Freddie Hubbard (trompete), Paul Chambers (baixo) e Wynton Kelly (piano). Um disco com estas cinco feras não têm como ser ruim. Clássico!

Cássia Zanon, jornalista e tradutora
Amazonas, do Cal Tjader, pela leveza  e pela capacidade de acalmar interferindo pouco no ambiente. E ainda tem João Donato.

Cynthia Flach, jornalista
Para agitar e dançar sozinha meu eterno favorito é o disco do Batacotô, lançado pela Velas, em 1993.

Cláudia Beylouni Santos, advogada
João, O Mito, de João Gilberto. Porque tem o universo dentro dele.

Daniel Rodrigues, jornalista
The Real McCoy, do McCoy Tyner, de 1967. Tyner é meu pianista preferido do jazz e o disco traz a ideia de algo que tem se exigido das pessoas nesse período de quarentena, que é o olhar para si mesmas. Faixas como Contemplation, e Search for Peace me passam essa ideia.

Dante Longo, produtor musical
Schizophrenia, de Wayne Shorter. Olhando pela janela aqui do alto do 22º segundo andar, me deu uma sensação de trilha perfeita pro caos atual, sem maiores motivos.

Duca Leindecker, guitarrista
New Chautauqua, de Pat Metheny. Por ter um som transcendental, ideal para o momento de transição da humanidade que precisa ter consciência de que é preciso amar as pessoas e não as coisas. Jazz com simplicidade e genialidade.  

Ed Motta, cantor e compositor
Herbie Hancock em The Prisoner. É óbvio.

Eduardo Osório Rodrigues, jornalista
Ballads, de John Coltrane, porque o momento requer serenidade e recolhimento, duas qualidades evocadas nesse grande disco, com presença garantida na viagem para a tal ilha deserta.

Fabiano Maciel, documentarista
Something Else, do Cannonball Adderley, porque é o meio do caminho entre o Kind of Blue e o A Love Supreme. Não é um álbum tão cerebral, mas todas as atmosferas estão lá.

Guillermo Piernes, jornalista
Pelos tempos atuais uma Bessie Smith com seus blues em Baby, Wont You Please Came Home soaria bem com essa dor e essa intensidade que ela carrega na voz.

Hector Aguilera, publicitário
Tento procurar calma na música. Eu aproveitei para ouvir o Solo Performances for 12 String Guitar, do Ralph Towner (1972-2009).

Hique Gomez, artista
Revisar o Tutu do Miles Davis é ter certeza de que há uma saída para tudo isso.  É saber que os artífices da Grande Síntese contam conosco para  deixarmos para trás tudo o que não tem sentido para a próxima fase da vida no planeta.

Jimi Joe, jornalista
Out to Lunch, do Eric Dolphy, Blue Note, 1964. Conexão com os dias de hoje: título e capa tipo a loja tá fechada, fui almoçar. Porque é um dos discos mais importantes da história do jazz. Deixe-se levar pelas “estranhezas” musicais de Eric Dolphy.

João Carlos Rodrigues, jornalista e escritor
Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus, de 1963. Por ser the best of hard-bop.

João Maldonado, pianista
Round Again, com Joshua Redman e seu quarteto, porque é um jazz muito moderno, com uma mistura de estética mas ao mesmo tempo com uma linguagem única!

Joyce Moreno, cantora e compositora
Bill Evans – From Left to Right. Disco maravilhoso e pouco conhecido, com ele experimentando o piano elétrico pela primeira (era novidade nos anos 70), seu trio e arranjos de orquestra de Michael Leonard. Curiosidade: a faixa The Dolphin (composição do nosso amado Luiz Eça) aparece duas vezes, “before” & “after”, antes e depois de gravada a orquestra.

Juan Esteves, fotógrafo
You Must Believe in Spring, do Bill Evans. Ele está no auge e esse disco foi gravado em 1977 pelo melhor trio dele, na minha opinião, Eddie Gómez no contrabaixo e Eliot Zigmund na bateria. O disco saiu depois da morte dele em 1980. Tenho desde que foi lançado! E o melhor é que o título é um alento em dias tenebrosos. Nada melhor do que poder acreditar na primavera. É a música que eu salvaria se o mundo fosse acabar!

Juarez Fonseca, jornalista
Um disco que, acho, pouca gente conhece: Jazz for a Rainy Afternoon. É uma coletânea lançada em 1999 – no Brasil, pela extinta gravadora Trama. Desde lá não canso de ouvir. Reúne grandes músicos, a maioria dos quais não chegou ao status de celebridade, mas que tocaram em grupos de celebridades. Entre eles, o pianista Charles Brown, o saxofonista David “Fathead” Newman, o guitarrista Jimmy Ponder, o trompetista Wallace Roney, o vibrafonista Johnny Lytle, todos liderando grupos. Mas também tem celebridades como Ron Carter, Woody Shaw e Hank Jones. No cardápio, composições deles e clássicos como Round Midnight, St. Louis Blues e Blue in Green.

Juliano Dupont, radialista
Pat Metheny Group, de 1978. Foi o primeiro disco de jazz que comprei e me apaixonei. Foi em 25 de outubro de 1997, no dia de meu aniversário de 15 anos. Vim de Bento a Porto Alegre com meus dois tios e meu avô fazer um passeio e comprar um presente. Fomos ao 3º andar da Galeria Chaves e na loja do Luis, a Classic Rock, comprei o primeiro Pat Metheny Group. Este disco, especialmente a composição San Lorenzo, é um memento, uma madeleine que me leva de volta aos meus 15 anos e ao mesmo tempo resume minha vida de ouvinte apaixonado. Pat Metheny parece afirmar, em vários de seus discos, mas especialmente neste, a maravilha de estar vivo. Sua música é uma celebração, e a música é a celebração de vida em conjunto. A música, e especialmente o jazz, é uma utopia social. O jazz consegue realizar a utopia da comunhão entre o individualismo e a democracia.

Julio “Chumbinho” Herrlein, guitarrista
Gosto muito de um álbum chamado Reflections, do Kurt Rosenwinkel. Recente, de 2010, mas essencial. Deve ser escutado milhões de vezes. Um dos melhores albuns de jazz guitar trio. Os solos contam histórias, tem um desenvolvimento progressivo e envolvente.

Lucio Brancato, jornalista
Sketches of Spain, do Miles Davis, desde sempre um dos meus álbuns favoritos e que toda vez que escuto me transmite paz e tranquilidade. O Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, é das mais belas composições já escritas. Neste arranjo do Gil Evans e interpretação do Miles, toma proporções ainda mais divinas.

Luis Koteck, professor de História
Como pratico esportes, em casa, gosto de The Man Machine, do Kraftwerk. Tecnologia, harmonia e ritmo. É preciso ficar em casa, ler, estudar, ver filmes e praticar esportes. Sempre escutando Kraftwerk.

Luiz Gonzaga Lopes, jornalista
Gosto muito de Arthur Blythe em In the Tradition, de 1977. Blythe morreu faz menos de três anos e é pouco tocado. Neste disco com seis faixas, Arthur Blythe, acompanhado por Stanley Cowell (piano), Fred Hopkins (contrabaixo) e Steve McCall (bateria) faz versões com arranjos que legitimam ainda mais clássicas composições como Jitterbug Waltz, de Fats Waller, Naima, de John Coltrane, e In a Sentimental Mood, de Duke Ellington, esta para mim com mais alma do que a original.

Luizinho Santos, saxofonista
Eric Alexander with Strings. É tranquilo e tem um lance “a vida é  bela”, necessário nestes tempos bicudos.

Marcelo Corsetti, guitarrista
The New Standard, do Herbie Hancock, com temas conhecidos tocados na visão única do Herbie Hancock. É um portal de entrada para pessoas que não têm o costume e o gosto de ouvir jazz.

Marcos Abreu, engenheiro de som
Dragon Fly, do Gerry Mulligan. Porque é um disco para ser escutado com tempo e calma. Além de ter uma excelente qualidade de som. Telarc por óbvio.

Marcus Gasparian, livreiro
Concert by the Sea, do Erroll Garner, porque cada vez que você ouve surge uma novidade e então dá para aguentar esses próximos dois meses.

Mariana Becker, jornalista
Vince Guaraldi em Peanuts Portraits. Porque voltei a ouvir a trilha de todos os desenhos do Charlie Brown, uma trilha que me dá uma sensação de estar ainda morando com meus pais e meus quatro irmãos quando a vida era mais simples e mais cheia de almofadas e menos dramas afiados.

Mario de Santi, jornalista
The Complete Pacific Jazz Recordings Of The Gerry Mulligan Quartet With Chet Baker. O que posso dizer eu, ouvinte amador de duas lendas como essas, juntas nesse álbum de quatro CDs que embalaram meu almoço dominical de truta grelhada acompanhada de salada de batata à moda alemã e pimentão vermelho glaceado? Obrigado velhos camaradas, a vida vale a pena.

Milton Ribeiro, livreiro
Charles Mingus, sem dúvida. Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus ou o que houver de mais desesperado. Haitian Fight Song ou o deboche de Fables of Faubus, por exemplo. Para a gente ver que há situações piores.

Norberto Flach, advogado
Kind of Blue, do Miles Davis, porque sempre é hora de ouvir.

Olivio Petit, jornalista
No momento, vou de Uptown Dance, do Stephane Grapelli. A namorada adora e tenho ouvido muito. Movido pela saudade. Vou ficar com esse.

Paulinho Lima, produtor cultural
Shirley Horn em I Love You, Paris. É puro jazz e ganhei de presente, da minha amiga Joyce Collins,com dedicatória muito carinhosa da inesquecível Miss Horn.

Paulo Markun, jornalista
Kind of Blue, do Miles Davis, que só há pouco conheci a história da gravação e fiquei espantado o quanto ela marcou a história da música.

Pedro Gonzaga, professor de Literatura
The Sidewinder, do Lee Morgan. Os quarentenados precisam dessa mistura perfeita entre animação e serenidade. Um copo de vinho, um Martíni e os fins de tarde caem sublimemente.

Pedro Só, jornalista
Tjader, de Cal Tjader, de 1971, porque une suavidade e leveza com sofisticação. É complexo, mas para cima. Tá muito duro encarar esses dias com música tensa ou mais triste. A versão dele do Legrand para What Are You Doing For The Rest Of Your Life foi o que me levou ao disco. Tem ainda versões de Evil Ways, do Santana, e até de de You Keep Me Hangin On, das Supremes. Quem puder fazer mojito em casa faz o match completo.

Péricles Cavalcanti, cantor e compositor
Solo Monk, do Thelonious Monk, porque já seria um bom começo.

Reinaldo Figueiredo, desenhista de humor e contrabaixista
Pithecanthropus Erectus, do Charles Mingus. Ele explica, na contracapa do LP, que a faixa título é um poema sonoro descrevendo a história do homem, começando pela sua evolução e realizações, passando pelo desenvolvimento do orgulho e da arrogância, e chegando finalmente à sua extinção. Mingus diz que a obra se divide em quatro movimentos: 1) Evolução. 2) Complexo de superioridade 3) Decadência 4) Destruição. Não é uma visão muito otimista do mundo, mas tem tudo a ver.

Renato Rosa, marchand
Elis Regina – Montreux Jazz Festival. Porque o Brasil podia exportar para o mundo uma das maiores cantoras/intérpretes universais.

Roberto Muggiati, jornalista
Vou indicar O DISCO, indiscutivelmente o maior de todos, nas suas doze polegadas: Birth of the Cool. Tem mais, um disco que não foi gravado como disco: uma compilação das gravações de três sessões – quatro faixas em 21 de janeiro de 1949; quatro faixas em 22 de abril de 1949; e três faixas em 9 de março de 1950; ao todo 11 faixas (houve uma versão parcial em LP de 10 polegadas em 1954) que só sairiam no formato de LP 12 polegadas em 1957 pela Capitol, eu tenho o vinil original. Quando entrevistei o Chet Baker no Free Jazz de 1985, até ele me deu a impressão de que achava que Birth of the Cool era um disco, originalmente. Não sei onde, se em Curitiba ou no Rio, comprei o LP original, que guardo carinhosamente até hoje. Na primeira vez que toquei com meu natimorto trio no alto da Rua XV em Curitiba – um sax tenor horrendo, Ubaldo T. de Abreu, fabricado em São Paulo e comprado pelo reembolso postal; uma bateria choca e um violoncelo do avô toscamente amplificado – toquei Boplicity, imagine, a gravação do Miles tinha sido feita apenas oito anos antes. Em 1957 eu tinha vinte anos. Vou contestar a famosa primeira frase do Aden, Arabie do Paul Nizan: “J’avais vingt ans. Je ne laisserai personne dire que c’est le plus bel âge de la vie”. Mon cher Paul, eu digo, 20 anos para mim foi a mais bela idade da vida. Faço questão de dedicar esse textículo e esta escolha ao único sobrevivente dos 16 (incluam também a meia alma da coisa, o arranjador Gil Evans ) daquelas gravações lendárias: o Lee Konitz. Só fui ouvir o Lee ao vivo no Free Jazz de 1996 e em 2007. Ele tocava na Sala Cecilia Meireles no dia dos meus 70 anos, meu cunhado rico de Curitiba veio ao Rio patrocinar uma festança, mas eu condicionei: “Tem de ser no dia 7, no dia 6 eu vou ouvir o Lee Konitz”. Libriano como eu, o velho eternamente jovem Lee vai fazer 93 anos – tenho certeza – no próximo 13 de outubro, uma semana exata depois dos meus 83.

Roger Lerina, jornalista
O jazz está em constante evolução e mesmo os medalhões podem nos surpreender com novidades. É o caso de Pat Metheny em From This Place: com diversos álbuns antológicos em sua carreira, o veterano guitarrista norte-americano lançou mais uma obra-prima no final de fevereiro, reunindo 10 excelentes temas inéditos próprios. Acompanhado do baterista Antonio Sanchez – parceiro de longa data do músico –, da baixista Linda May Han Oh e do pianista Gwilym Simcock, Metheny apresenta os vários caminhos de sua música com um renovado e contagiante vigor. Mesmo quando a orquestra Hollywood Studio Symphony e a cantora Meshell Ndegeocello acalmam o ritmo na faixa-título, esse novo flerte de Metheny com a canção não cede aos apelos banais do formato e mantém a elegância, a precisão e a riqueza musicais características de toda a sua obra. Seis anos depois do disco anterior de Pat Metheny, From This Place é mais um trabalho de um artista que sabe seu lugar – e é ideal para ser apreciado em qualquer local que você esteja.

Sérgio Martins, jornalista
New Chautauqua, de Pat Metheny. Por ser belo e calmo.

Tiago Flores, maestro
Herbie Hancock ao piano com orquestra regida por Gustavo Dudamel interpretando Rhapsody in Blue de George Gershwin. Porque estava precisando de uma música que me deixasse mais animado e achei esta maravilha.

Violeta Weinschelbaum, jornalista
Pode ser o Love Songs de Miles Davis. É o primeiro que apareceu. Nesses dias de quarentena eu não estou conseguindo ler, pensar, ouvir, coisas que precisem de muita concentração. Amo Miles e esse disco em particular é fácil de ouvir para mim. Como sempre, pode ter muitos níveis de escuta, de leitura, mas ao mesmo tempo é amável, pode ficar na frente de tudo ou acompanhar qualquer outra cena tornando-a mais suportável.

Yamandú Costa, violonista
The Last Concert, do Modern Jazz Quartet. Um disco que meu sogro me apresentou recentemente e que está sendo muito bom nessa temporada de adaptação aqui em Lisboa.


Para facilitar a vida dos nossos queridos leitores, reunimos a maioria dos discos em uma playlist do Spotify. Como infelizmente nem todos estão disponíveis, substituímos por outras músicas dos artistas escolhidos. Aproveite! #ficaemcasa #vaipassar

Autor: Márcio Pinheiro

Jornalista, roteirista, produtor cultural

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