A pandemia em água sanitária sobre tecido

Conselheiro da AmaJazz, o multitalentoso Reinaldo Figueiredo faz exposição online de obras inspiradas nas loucuras do período pandêmico no país

Para ser lido ao som de Falsa Baiana (Salsa Baiana) da CEJ – Companhia Estadual de Jazz

Que tal ter um Reinaldo Figueiredo original na parede e ainda ajudar instituições que promovem educação musical gratuita para crianças? A oportunidade está ao alcance de um clique. Há poucos dias, o conselheiro e colaborador da AmaJazz começou a divulgar em suas redes sociais o trabalho que está exposto no site do Espaço Corda, uma galeria de arte em Belo Horizonte.

“A exposição era para ter acontecido ao vivo, lá em BH. Infelizmente, por problemas de logística, não deu tempo. Mas eu queria mostrar esses trabalhos antes das eleições, e resolvi fazer no formato online, para não perder a ocasião”, diz Reinaldo.

Além das obras, a página da galeria traz um divertidíssimo “texto curatorial” escrito por Leonard Plume, crítico de jazz da revista Down Bitch (e alter-ego de Reinaldo):

No mês de dezembro de 2020, durante a pandemia de Covid 19, enquanto o Brasil e o mundo passavam por um processo de descaralhamento generalizado, Reinaldo Figueiredo sofreu um incontrolável surto de indignação que acabou dando origem a esta exposição. Na verdade, de acordo com as pesquisas e estatísticas da época, o artista estava 22,3% indignado, 9,8% perplexo, 24,5% enojado e 43,4% puto da vida. Sem dúvida, os trabalhos refletem um alto nível de repugnância e ojeriza em relação à realidade político-sanitária, que se tornava a cada dia mais absurda e insuportável.

Depois de meses vendo suas roupas ficarem totalmente manchadas por água sanitária, o artista achou que poderia usar esse tipo de suporte para uma série de novas obras. Os desenhos, feitos com água sanitária sobre tecido, deveriam ter sido expostos ao vivo no Espaço Corda há algum tempo, mas o coronavírus, o ômicron e outras catástrofes, variantes e variáveis se abateram sobre o país, forçando o adiamento da mostra, que agora está sendo realizada no formato online.

No texto da contracapa do LP Kind of Blue, de Miles Davis, o pianista Bill Evans faz um paralelo entre o jazz e uma técnica de desenho muito usada no Japão e na China. É um estilo que tem a ver com a caligrafia, no qual os traços devem ser feitos de uma vez só, sem vacilação, num gesto único e definitivo. E é isso que fazem os músicos durante um improviso. Na hora, ninguém sabe o que pode acontecer. O que rolar, rolou. O desenhista Reinaldo, sem querer, acabou usando esse tipo de espontaneidade nesses trabalhos, realizados num súbito ímpeto criativo, sem se preocupar se aquilo seria arte ou não.


Para conhecer o projeto e comprar alguma(s) das obras, confira o site da galeria. O que for arrecadado com as vendas será doado para instituições que promovem educação musical gratuita para crianças, no Rio de Janeiro.

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