João Carlos Rodrigues escreve sobre os dez anos sem Johnny Alf, um artista que continua sendo o mais secreto mistério da música brasileira
Para ser lido ao som de Johnny Alf em Fim de Semana em Eldorado gravado ao vivo no Rio em 1997

Nesse mês de março que passou completou-se uma década do falecimento de Johnny Alf, compositor, pianista e cantor que foi um dos precursores da bossa nova. Corrigindo: precursor não. Pioneiro da renovação da música popular brasileira no período pós-guerra. Alf começou a vida profissional por volta de 1952, alguns anos antes de Tom Jobim e João Gilberto, e foi uma referência para eles, assim como para outros mais novos do mesmo movimento: Roberto Menescal, João Donato, Marcos Valle, César Mariano. Sem falar no seu modo de cantar inusitado, descendente de Nat King Cole e Sarah Vaughan, que marcou profundamente Leny Andrade, e, indiretamente, os extrovertidos Wilson Simonal e Elis Regina.
No entanto, dez anos são passados e quase não se fala mais nele, embora quando acontece, é sempre com um respeito que não recebeu sempre quando vivo. Existe a biografia de minha autoria (Duas ou Três Coisas que Você não Sabe), de 2012, disponível gratuitamente online. Alaide Costa e Leny Andrade, amigas fiéis, o mantém no repertório de seus shows e gravações. Tentei ver se alguma gravadora se interessava em relançar o CD Cult Alf, que produzi em 1998, mas necas. O Brasil volta e meia é muito cruel.
Ao que eu saiba, somente um disco em sua homenagem está programado para ser lançado em 2020: Ilusão à Toa, instrumental do Mauro Senise, a sair pela Biscoito Fino ainda nesse semestre. Ouvi previamente algumas faixas e posso garantir que é bom, muito bom.
Mas restam algumas possibilidades que não foram exploradas.
1) o show De Bem com a Vida, realizado no Teatro Rival em 1983 e gravado numa fita cassete, a maioria das faixas com som razoável e melhorável com as técnicas atuais.
2) as sete faixas gravadas em 1992 com produção de João Sérgio Abreu e hoje pertencentes à sua herdeira Fernanda Danetra.
3) um show completo gravado no Vinicius Piano Bar, no Rio, em 1996, de minha propriedade e nunca mixado.
4) outro inédito, gravado com Cesar Mariano Romero Lubambo e outros, em Nova York, em 2001. Nesse parece que os vocais são fracos e não foram aprovados por ele.
Quem sabe algum produtor estrangeiro, japonês ou de alhures, venha se interessar por algum. Fora as 26 músicas registradas na Irmãos Vitale e Fermata, com títulos que não condizem com nenhuma já gravada, a pesquisar.
Alf continua o mistério mais secreto da música popular brasileira.