Sonny Rollins chega aos 90 anos à frente uma trajetória criativa e revolucionária na história do jazz
Para ser lido ao som de Sonny Rolins ao vivo em Viena

O Sonny Rollins que completa 90 anos neste dia 7 é antes de tudo um sobrevivente. Primeiro por chegar à longeva idade ainda na ativa – embora ainda toque, componha e grave, agora em menor intensidade. Mas só o fato de ter passado por tantas, ter visto tanto, sua sobrevivência já é um milagre. Não vou falar da extensa carreira de mais de sete décadas. Vou me deter em apenas dois episódios, tão específicos quanto simbólicos.
O primeiro é a famosa foto de Art Kane, registrada em 1958 e que reúne 57 entre os nomes mais importantes do jazz. Em A Great Day in Harlem, Sonny Rollins não é a figura central – talvez seja Coleman Hawkins – mas também não é coadjuvante. Já havia colocado seu nome na história do jazz há mais de uma década, quando começou a circular por bares e palcos. Também já havia gravado com Miles Davis, Max Roach, Clifford Brown e Thelonious Monk. Cumprira prisão e se livrara do vício em heroína, inovara ao se apresentar tocando sax tendo ao lado a reduzida parceria de apenas contrabaixo e bateria, e, por fim, naquele mesmo ano de 1958 escancarara seu ativismo político em The Freedom Suite. Hoje, 62 anos depois, dos 57 músicos que participaram da foto restam apenas dois vivos: Benny Golson, de 91 anos, e Sonny Rollins.
Aos 90 anos, Sonny Rollins é ainda o último sobrevivente de uma geração que surgiu à sombra do bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie e que modificou os rumos do jazz a partir dos anos 50. Ao lado de Miles Davis, John Coltrane, Clifford Brown, Don Cherry e Charles Mingus, Rollins esteve à frente de todas as revoluções musicais acontecidas no jazz nos últimos. Sempre se equilibrou entre a tradição e a vanguarda. Era um músico que reverenciava os saxofonistas dos anos 30, principalmente o mestre Coleman Hawkins, mas que também estava com os ouvidos abertos para as novas tendências. Foi um dos primeiros a aproximar o jazz dos ritmos latinos e ainda ajudou a revelar músicos africanos e orientais.
Inexplicavelmente, quando estava no auge, partiu para um misterioso retiro. Não precisou sair de Nova York – cidade onde nasceu, cresceu e sempre morou – mas afastou-se dos shows e das gravações. Quando queria tocar, ia para a ponte Williamsburg e ficava lá, envolvido com longos solos de saxofone. Da mesma forma que saiu de cena – sem alarde – voltou à música, compondo e gravando de maneira ainda mais intensa.
Rollins também é um sobrevivente em sua própria terra. Ele ainda estava sob o impacto da tragédia do 11 de Setembro quando subiu ao palco na noite de 15 de setembro de 2001 – quatro dias depois do atentado, oito depois de completar 71 anos – para apresentar o show Without a Song – The 9/11 Concert, no Berklee Performance Center de Boston. As Torres Gêmeas faziam parte da paisagem urbana do músico. Ele morava no 40º andar de um edifício a apenas seis quarteirões do World Trade Center. Sonny Rollins foi um dos milhares de nova-iorquinos que, logo após a tragédia, teve o prédio interditado e precisou deixar a casa. O saxofonista decidiu então enfrentar o estado de choque em que se encontrava partindo para Boston, “Exatamente a cidade onde embarcaram os sequestradores dos aviões, e onde muitos passageiros/vítimas viviam”, como explica o jornalista Bob Blumenthal no encarte do disco lançado apenas quatro anos depois. Na época da gravação, Sonny Rollins declarou que algumas pessoas o aconselharam a não se apresentar. Ele preferiu não aceitar o conselho e insistiu em fazer o concerto. “Precisamos manter a música viva”, disse.
Este era o Sonny Rollins coerente e ousado. O mesmo que atravessou os anos 70 e 80 fazendo shows por todo o mundo – no Brasil, esteve duas vezes, na primeira edição do Free Jazz em 1985 e, mais recentemente, em 2008 – e chegou ao novo milênio ainda na ativa, preocupado não apenas com as ideias sonoras mas também com outros temas como ecologia, globalização e a vida nas grandes cidades. O ataque terrorista contra Nova York, deixou Rollins impactado. Mas nem a violência do terrorismo fez com que ele deixasse de ser um revolucionário – e um sobrevivente.
Prezado Marcio
em 58 Rollins era sim, já uma figura central do Jazz. três de seus principais discos já haviam sido lançados: “Saxophone Colossus”(1956), “Way Out West” (1957), e “A Night At The Village Vanguard” (1957), e Coltrane ainda não havia estourado, sendo Rollins a principal figura do tenor daquele ano.
Sua saida de cena foi sim noticiada com alarde pelas revistas de Jazz, assim como a sua esperada volta em 1962, celebrada com o album “The Bridge”.