João Carlos Rodrigues recupera uma raridade perdida na história da música brasileira

Para ser lido ao som da Orquestra Afro Brasileira em Obaluayê e India
Há poucos meses, escrevi aqui na AmaJazz sobre o excelente disco Tribo Masahy Apresenta Embaixador, obra pouco conhecida gravada no início dos anos 60, e – revirando meus implacáveis arquivos – lembrei de outro texto meu, escrito em dezembro de 2012, em que eu relacionava as semelhanças entre esta sonoridade e os afrosambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes e, principalmente, a Orquestra Afro Brasileira, do maestro Abigail Moura, que existiu entre 1942 e 1969, e só gravou dois discos, um em 1957 e outro em 1968. Elogiada por luminares como Eleazar de Carvalho, Paschoal Carlos Magno e Abdias Nascimento, a Orquestra Afro Brasileira foi a precursora de toda sonoridade afro-brasileira que hoje ouvimos – mas ninguém fala, ninguém conhece. Também vale lembrar que o maestro Abigail Moura é o autor da trilha sonora do filme Mãos Sangrentas, de 1955, dirigido por Carlos Hugo Christensen.
As preciosas gravações na Rádio MEC foram destruídas em 1964, logo depois do golpe militar. A solista da primeira música é a cantora oficial da orquestra, Maria do Carmo, que no início dos anos 60 teria enlouquecido no palco enquanto interpretava um ponto de umbanda. Devemos a Emanoel Araujo a edição de uma coletânea em 2003 pelo Museu do Negro, com belo texto de Nei Lopes.