Roberto Muggiati se despede do trompetista Cláudio Roditi
Para ser lido ao som de Cláudio Roditi em Body and Soul, gravado em 2007 em Beverly Hills

A conversa mais longa que tive com Cláudio Roditi não foi na noite, mas numa manhã ensolarada no enterro de um amigo entre os túmulos do cemitério judaico do Caju, no Rio de Janeiro. Falou-me da sua infância em Santos (SP) e Varginha (MG), deslocado da cidade natal, o Rio de Janeiro, por conta dos negócios do pai. De volta ao Rio, destacou-se na orquestra de Ed Lincoln e nos anos 70 foi aperfeiçoar sua arte no Berklee College of Music de Boston. Quem é bom no jazz só tem um lugar para ficar: a Grande Maçã.
Figura requisitada no circuito de Nova York, Roditi fixou residência na
vizinha Nova Jersey, onde morreu na madrugada de 18 de janeiro, aos 73 anos – jovem, muito jovem, ainda tinha muita música para dar ao mundo. Eu o ouvi como estrela da prestigiosa United Nations Orchestra, organizada por Dizzy Gillespie, num Free Jazz no Rio. E, depois, nas eventuais temporadas cariocas, a última na Modern Sound, em Copacabana. Com um trocadilho infame, criei um lema para o seu brasão, inspirado no
conhecido reclame da empresa de mudanças Lusitana: O mundo gira e Cláudio Roditi…
Inspirado no sopro percussivo e lírico da escola Fats Navarro-Clifford Brown-Lee Morgan, Roditi criou um diferencial ao escolher um trompete que, ao invés de pistão, usava válvulas rotativas, ou chaves, mais comuns nas trompas. As pessoas costumavam estranhar a visão daquele trompete que ele tocava na horizontal, ao contrário dos pistos, acionados na vertical. Seu grande lance: por ter um curso menor que os pistões, as válvulas lineares permitem maior agilidade na execução. Aqui nosso adeus provisório, pois a obra gravada de Cláudio Roditi está disponível nos melhores CDs e vídeos, eterna.