Eduardo Osório Rodrigues* revela uma faceta pouco conhecida do polivalente Sammy Davis Jr.
Para ser lido ao som de Sammy Davis Jr cantando Mr. Bojangles
A sensualidade de Charlotte Rampling, no limite entre exposição e reserva, e seus incandescentes olhos verdes; Milton Berle em salto acrobático digno de Baryshnikov. O selinho de Louis Armstrong em Cicely Tyson; Marilyn, despida de todo o glamour, colocando o filho de um amigo para dormir. E Shirley MacLaine ensanduichada entre Sinatra e Dean Martin, mas com sorriso de muitos dentes.
Flagrantes de Henri Cartier Bresson? Não. As imagens icônicas descritas acima foram captadas pelas lentes de um fotógrafo negro, baixo, franzino e caolho chamado Sammy Davis, Jr. (1925-1990), uma das personalidades mais exuberantes, complexas e talentosas do século 20.
Detalhe: a maioria dessas fotos foi feita após o acidente automobilístico que afetou o olho esquerdo do artista, limitando seu campo de visão. A partir de 1954, Sammy passou a enxergar o mundo apenas pelo olho direito, uma espécie de grande angular natural que lhe permitiu admirar e registrar cenas de beleza estética irrepreensível, como as da atriz inglesa e a do comediante americano, ou lasciva como a do trio de atores no famoso trenzinho da alegria.
Lançado em 2007, Photo by Sammy Davis, Jr. – Text by Burt Boyar revelou ao mundo a paixão do artista pela fotografia – hobby que curtia desde a década de 40, quando viajou pelo país fotografando paisagens rurais e cenas urbanas no estilo de Walker Evans.
Segundo Burt Boyar, amigo e co-autor de duas autobiografias de Sammy, o livro reúne “um dos maiores arquivos de imagens desconhecidas da história do show business”. A coleção inédita de fotografias em preto e branco estava guardada em caixas depositadas em um armazém da Bekins, em Carson, na Califórnia. Ao examinar as folhas de contato, Boyer viu o tesouro que tinha em mãos. Um acesso íntimo inigualável aos bastidores de espetáculos e de festas noturnas de e com celebridades.
A lista de estrelas enquadradas por Sammy é um who’s who de famosos. Vemos Nat King Cole rondando a cidade, Nixon no camarim de Jerry Lewis, Sidney Poitier e Martin Luther King durante a Marcha de 1963 em Washington e, claro, as mulheres com quem se envolveu: de Romy Schneider e Kim Novak a Lola Falana, além de modelos, bailarinas e garotas comuns. Há, também, fotos de seus pais, Sammy Davis, Sr. e Elvera Sanches, de seu tio e dançarino como o pai, Will Mastin, de suas mulheres, entre elas a linda atriz sueca May Britt, e de três de seus quatro filhos, Jeff, Tracey e Mark.
No site oficial do artista (www.sammydavis-jr.com), há imagens de vários momentos em que ele aparece na frente das câmaras como ator, cantor, dançarino, comediante e multi-instrumentista. Uma bela oportunidade para conferir as cenas em que Sammy foi flagrado pelas lentes de fotógrafos que estavam ali para registrar instantes de pura genialidade.
* Eduardo Osório Rodrigues é jornalista e autor do livro Negras Melodias – Músicas de Feiticeiras e Santos Pecadores, que o leitor pode conhecer melhor visitando a página no Facebook