Renato Borghetti e Yamandú Costa levam ao palco virtuosismo, emoção e cumplicidade musical
Para ser lido ao som de Borghetti & Yamandú

“O último show sempre é melhor”, me disse Renato Borghetti, no camarim, meia hora antes de subir ao palco para encerrar a pequena turnê que passou por três cidades e ontem se encerrava após duas apresentações em Porto Alegre. “É quando todos já estão mais entrosados e o repertório está afinado”, completou. E de fato foi isso que se viu na fria noite dessa quinta-feira quando Borghetti e Yamandú Costa, coadjuvados por Daniel Sá e Guto Wirtti, mostraram um dos mais bem idealizados e bem acabados shows apresentados na cidade nos últimos tempos.
Tudo vai num crescendo. Um Yamandú alegre e com saudades do pago – falando em pinhões e bergamotas – abre o espetáculo com uma peça em violão solo para em seguida engrenar a primeira ao lado de Borghetti. Se “tocar o chamamé é como mexer no fogo: ele acende de novo”, como definiu Yamandú, os músicos dão uma dimensão ainda maior à combustão. Neste chamamé atômico, sons e fúrias saem dos instrumentos e refletem ora o virtuosismo de dois grandes instrumentistas ora o bom humor e a cumplicidade de dois amigos e parceiros por mais de duas décadas.
Então, a partir da terceira música, já com o quarteto no palco, tudo se ilumina. As performances crescem ainda mais e o repertório parece integralmente ajustado, com Merceditas e Barra do Ribeirocomo destaques. Com uma concepção enxuta e musicalmente ajustada, o espetáculo é perfeito até na duração: 75 minutos, aí incluído o bis. Nada tão longo, tampouco curto. No formato exato.
(A ilustração desta página é de Gilmar Fraga, e as fotos, de Manuela Zanon e Norberto Flach, outras testemunhas privilegiadas desse encontro musical.)