“Moacir Santos era sofisticação e modernidade”
Márcio Pinheiro
Para ler ao som do primoroso Ouro Negro, de 2001.

O saxofonista Zé Nogueira exibe um dos mais belos e extensos currículos da música intrumental brasileira. Olha aí: Edu Lobo, Djavan, Chico Buarque, Zezé Mota, Simone, MPB-4, Zizi Possi, Marcos Ariel, Victor Biglione, Rique Pantoja, Zé Renato, Verônica Sabino, Leila Pinheiro, Toninho Horta e Flavio Venturini. E tem mais: Tulio Mourão, Luiz Avellar, Marco Pereira, Leandro Braga, Olivia Byington, Cristóvão Bastos, Luciana Rabello, Tim Maia, Erasmo Carlos, Boca Livre, Guinga e Paulinho da Viola. Mas a cabeça musical de Zé Nogueira se transformou depois de ouvir Moacir Santos. O maestro, compositor, arranjador, professor e saxofonista tornou-se a maior referência na carreira de Zé Nogueira. A proximidade, iniciada num encontro nos Estados Unidos em 1982, como Zé Nogueira lembra a seguir, rendeu parcerias em shows, festivais e discos, o mais importante deles o ábum duplo Ouro Negro, lançado em 2001. Na entrevista, Zé Nogueira lembra um pouco o que aprendeu (e continua aprendendo) com Moacir Santos. Fala aí, Zé Nogueira:
Como você se aproximou do Moacir Santos?
Em 1982, quando fomos gravar o disco Luz, do Djavan, em Los Angeles, eu e Paulinho Albuquerque insistimos que Djavan chamasse o Moacir para fazer um arranjo, e foi assim que o conheci pessoalmente. Ele fez um arranjo espetacular da música Capim onde ele fez uma segunda música dentro da própria música! Depois conhecemos a sua casa e comemos o famoso feijãozinho da Dona Cleonice. Mais tarde, em 1985, tive o grande prazer de tocar com ele quando criamos o Free Jazz Festival. Foi uma noite memorável onde tocaram Radamés Gnattali e os Carioquinhas na abertura e o show do Moacir com mais nove músicos fechou a noite. Inesquecível.

O que você conhecia dele antes de conhecê-lo pessoalmente?
Conheci a música de Moacir nos garimpos da Modern Sound (extinta loja de discos localizada em Copacabana, uma das melhores do Brasil). Comprei os três discos dele da Blue Note e fiquei apaixonado. Isso foi nos anos 70, quando os discos estavam ainda fresquinhos! Mas só fui conhecer o seu primeiro disco Coisas na íntegra bem depois, já nos anos 90. Antes eu só conhecia algumas coisas (sem trocadilho) soltas. Mas quando ouvi o disco completo foi aí que eu tombei de vez de amor pelo sensacional Moacir Santos.
Qual a maior contribuição do Moacir Santos ao jazz?
A maior contribuição foi ele próprio e toda sua música. Ele nunca foi muito conhecido mas quem o conhecia se apaixonava. Foi assim com o Horace Silver, que o apresentou à Blue Note e diversos outros grandes músicos como Henry Mancini e Lalo Schifrin. Moacir trabalhou como ghost writer dos dois. E mais recentemente o Wynton Marsalis caiu de amores pela música dele. Disse que era o músico que mais se aproximava de Duke Ellington.
Passados 12 anos da morte de Moacir Santos, o que se mantém na obra dele?
Desde o lançamento do Ouro Negro, em 2001, até os dias de hoje, a obra do Moacir foi replicada às gerações seguintes e hoje o Moacir é amplamente conhecido em seu país. Dada à extrema sofisticação, modernidade e originalidade da sua música ela é sempre muito atual. Não envelhecerá jamais.
Qual a maior influência do Moacir Santos na tua carreira?
O Moacir é um mestre dos músicos. quem já tocou com ele, como eu, fica para sempre com aquela voz grave e doce, como o seu sax barítono, falando em seu ouvido. dizendo e cantando o que você precisa ouvir.
Muito bom o artigo, vizinho! Não escutei ao som de Ouro Negro, mas ao som de Choros & Alegria, especialmente as faixas “Vaidoso” e “Flores”, em que o maestro faz uma mistura genial de jazz-choro, se é que isso existe. O cara era gênio!