Juarez Fonseca revela os sons de Ghadyego Carraro, que garante: “Fronteira aqui é unidade, não divisão”
Para ser lido ao som de Ghadyego Carraro em Anhum

Criado em homenagem aos povos originários das Américas, Anhum, sexto álbum de Ghadyego Carraro, reafirma a dimensão internacional de seu trabalho. O artista passo-fundense é hoje, sem favor, um dos principais compositores, arranjadores e contrabaixistas da música instrumental brasileira. Basta uma só audição atenta do novo disco, primoroso da primeira à última faixa, para se saber disso. Mesmo que o espírito jazzístico esteja sempre presente, o leque de Ghadyego é amplo – ainda mais neste especialmente inspirado Anhum (o “Deus da Melodia” na mitologia tupi-guarani).
“Para minha tese de doutorado na Universidade de Passo Fundo pesquisei muito as sonoridades fronteiriças, as influências das culturas indígena, africana e europeia”, diz ele. “Temos essa tríade nas Américas, é sempre presente, um pouco mais uma, um pouco mais outra. Impressionante como é negligenciada a cultura indígena, onde estão muitas de nossas matrizes rítmicas – não tenho como pensar em chacarera sem pensar na herança indígena. Mas concentrei muito na questão platina, Sul do Brasil, Argentina e Uruguai. Fronteira aqui é unidade, não divisão”, sublinha.
Homenagem a Brasília, a faixa de abertura, Brasiliana é, digamos, free-jazz brasileiro. Nela, brilham o bandolim do brasiliense Victor Angeleas e o piano de Diones Correntino. Em seguida vem Chacarera Ameríndia, única feita com quinteto (as demais têm quarteto), participação do grande músico paulista Arismar do Espírito Santo ao violão e vocalises. A terceira, Estrada de Tropa, com vários climas rítmicos, tem o diferencial do acordeom do português João Barradas. Depois, For You Lu, balada de levada também free, é toda percorrida pelo belo sax de Foka. Em Lisboa, o instrumento diferencial é o trompete de Gian Becker. O acordeom de novo em Lua Negra, zamba meio funkeada. E a melodia envolvente de Recanati fecha o disco.
Ok, mas e os outros músicos fixos, enquanto os contrabaixos (elétrico, acústico, fretless) de Ghadyego conduzem as viagens? O baterista, preciso, de muitos recursos, é Ricardo de Pina. E o pianista (exceto em Brasiliana) é o cada vez mais criativo, múltiplo, brilhante mesmo Cristian Sperandir, a quem já não podemos mais nos referir apenas como “grande revelação da música instrumental gaúcha”. Sobre o jazz que, como escrevi acima, marca Anhum e todo o trabalho de Ghadyego, vejamos o que ele diz:
“Sempre gostei de jazz, estudei muito, aqui e com gente fora daqui. Então isso tudo, até sem eu perceber, estava no meu som. Quando me aprofundei na tese de doutorado é que vim a perceber o quanto isso era e é presente em mim. Outros artistas gaúchos que admiro muito como Luiz Carlos Borges, Renato Borghetti, também faziam e fazem isso, assim como três grandes que começaram em Passo Fundo, Alegre Corrêa, Ronaldo Saggiorato, Guinha Ramirez. Passo Fundo é um lugar de muitos artistas.”
E para fechar, uma breve biografia (saiba mais em www.ghadyegocarraro.com). Começou a estudar violão aos 14 anos, logo passando para o contrabaixo. Também estudou piano, composição e regência. Formado em Música e em História pela Universidade de Passo Fundo. Fez mestrado em Performance Musical – Contrabaixo acústico pela Universidade Federal de Goiás. Estudou com renomados professores brasileiros e norte-americanos. Viveu e atuou na Itália e em Portugal. Há dez anos trabalha com pesquisa, dá aulas particulares de música e cursos on-line. Seus planos mais próximos são circular pelo Brasil com a divulgação do novo trabalho (tem projeto aprovado na Lei Rouanet) e fazer aprimoramento em jazz nos Estados Unidos.

Olá, Juarez, obrigado pela introdução, ao som de Carraro, que, ao fundo no momento, segue muito bem.
abs
Grato ao senhor Juarez Fonseca pela crítica do meu álbum Anhum, honrado em saber sobre as suas considerações!