A completa afinidade entre dois músicos que nem o tempo consegue apagar
Para ser lido ao som de Uma tarde com Bud Shank e João Donato

Em 1965, João Donato morava nos Estados Unidos e circulava entre os grandes nomes da música latina – Mongo Santamaria, Willie Bobo e Cal Tjader, por exemplo. Dessa época, um de seus parceiros mais constantes era o saxofonista Bud Shank (1926-2009).
A proximidade acabou dando origem a um disco, lançado naquele ano. Quatro décadas depois, em 2005, Shank veio ao Brasil e a parceria foi retomada. O resultado está registrado em Uma tarde com Bud Shank e João Donato.
Exceto por uma pequena participação de Shank em um disco de Donato no começo dos anos 70, os dois músicos haviam perdido o contato. Foram se reencontrar em 2004, quando o saxofonista veio ao Brasil como uma das atrações do extinto Chivas Jazz Festival. A volta ao palco foi animadora e serviu de estímulo para que os dois fossem para o estúdio. Assim, o disco nasceu, sendo gravado rapidamente, em apenas duas sessões em maio de 2004.
Acompanhado por Luiz Alves (contrabaixo), Robertinho Silva (bateria) e Eloir de Moraes (percussão, em sua última gravação), Uma Tarde com Bud Shank e João Donato deixa claro que a afinidade entre os dois músicos continua perfeita. Das oito faixas, três são de Donato – Gaiolas Abertas (parceria do pianista com Martinho da Vila), Joana e Minha Saudade (feita com João Gilberto). Mas o entrosamento do piano de Donato com o sax de Shank cresce nas interpretações de standards americanos como There Will Never Be Another You, Black Orchid e Night And Day.
Músicos criativos e em perfeita sintonia, Donato e Shank conseguem mostrar como um repertório que foi gravado centenas de vezes ainda consegue a ter algo a ser descoberto.