Eduardo Rodrigues selecionou três depoimentos de músicos e amigos que tocaram e conviveram com Bird
Para ser lido ao som de Charlie Parker em Lover Man

(Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA/Domínio público/Wikimedia Commons)
Os relatos de Lennie Tristano, Billie Eckstine e Tommy Potter foram retirados do livro Nostalgia de Charlie Parker, edição espanhola de 2009. O título original em inglês chama-se Bird – The Legend of Charlie Parker, lançado em 1962 nos Estados Unidos por Robert Reisner.
Lennie Tristano, pianista:
“Estava sentado com Charlie e com outros amigos em uma mesa no Birdland quando entrou Bud Powell, nos saudou e, sem motivo aparente, disse: ‘Sabe de uma coisa, Bird? Não vales uma merda. Não me emocionas. Hoje, não tocas uma merda’, e seguiu humilhando Bird sem compaixão.
Intervi. ‘Bud, não fale assim. Bird é teu pai’.
Bird disse: ‘Lennie, não preste atenção. Eu fui inspirado pelo estilo dele’.
Na próxima vez, era óbvio que Bird ensinaria boas maneiras a Bud, porque ele tocava todas as músicas dobrando o tempo e ninguém podia tocar tão rápido quanto Bird. Sobre Bud, Charlie me disse uma vez: você acha que ele é louco? Eu o ensinei a se comportar assim”.
Billy Eckstine, cantor:
“Uma noite, Ben Webster entrou no Minton’s e Charlie estava no palco, com o tenor. Ben, que nunca ouvira Bird, disse: ‘Que diabos ele está fazendo lá em cima? Cara, ele é louco ou o quê? Ele subiu ao palco e arrancou o sax das mãos de Parker, dizendo: esse sax não precisa soar tão rápido’. No entanto, naquela mesma noite, Ben foi por toda a cidade repetindo: ‘Cara, eu ouvi um cara … eu juro que ele enlouquece todo mundo com o tenor’. A verdade é que Bird nunca se sentiu confortável com o tenor, ele nunca gostou. Mas tocava como um louco aquele maldito instrumento”.
Tommy Porter, contrabaixista
“Um amigo de Charlie tinha um pequeno avião e se ofereceu para levar Charlie para o próximo concerto. Max, Duke e eu pegamos o trem, e Charlie e Red Rodney foram de avião. Red me disse que Bird perguntou se ele poderia assumir o comando. O amigo dele disse que sim. Charlie nunca havia pilotado um avião, mas lá estava ele conduzindo o aparelho como se se fosse uma coisa comum, com um sorriso de orelha a orelha. De repente, Bird se inclinou para a esquerda e o avião virou para a direita. O cara rapidamente retomou os controles. Red estava tremendo de medo. Bird disse que só queria ouvir o barulho do motor enquanto virava o avião”.