Moraes Moreira injetou agitação e alegria na MPB e morreu dormindo aos 72 anos

Para ser lido ao som de Moraes Moreira em Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira
Se existe hoje AmaJazz é porque houve Moraes Moreira. A comparação exagerada e talvez despropositada se explica pelo fato de que Moraes Moreira está no nascedouro do meu interesse musical. Foi no começo dos anos 80, no Brasil imediatamente pós-anistia, que eu, adolescente, comecei a ficar fascinado pelo músico que estava renovando o samba ao misturá-lo com afoxé, frevo e forró. Seu manifesto estava em Bazar Brasileiro, primeiro disco dele que comprei e que marcava uma nova fase em sua carreira como um dos representantes da forte gravadora alemã que se instalava no país. No mesmo período, Moraes Moreira também começava a revolucionar as músicas de Carnaval. Seu estilo alegre e agitado – sozinho ele “era” um trio elétrico – ganhava a melhor tradução em músicas como Eu Sou o Carnaval, Chão da Praça e Bloco do Prazer. Como para ele a vida era uma festa, até os folguedos de São João – tão presentes na cultura nordestina – receberam de Moraes Moreira sua homenagem na instantaneamente clássica Festa do Interior.
Foi gravado por todo mundo que importava (Gal Costa, Simone, Baby Consuelo, Pepeu Gomes) e se consolidava como herdeiro de uma tradição do samba baiano que começava em Dorival Caymmi e passava por João Gilberto e ainda abria generosos espaços para outros bambas que Moraes Moreira sabia reverenciar, como os conterrâneos (Assis Valente e Batatinha) e os sambistas cariocas (Herivelto Martins e Ataulfo Alves). Quase como um Jorge Ben Jor, Moraes Moreira dava impressão de que seria incapaz de fazer uma música que não fosse alegre. Porém, sabia ser lírico e suave em canções de clara influência de João Gilberto (Alto-Falante e Asas de Brasília) ou em sambas ralentados, como Meninas do Brasil e Mentira, em que ensinava que “Para fazer um samba-canção/Dentro da tradição emocional brasileira/Não me falta dor/Tenho o pranto e o rancor…”.
Nos últimos tempos, parecia ter diminuído o ritmo. Gravava menos, já não lotava tantos teatros (pelo menos em Porto Alegre, onde durante muitos anos ele foi um fenômeno) e o que se lia sobre ele era em entrevistas polemizando com Baby Consuelo sobre quem era o “dono” dos Novos Baianos. Parecia ter deixado a alegria de lado e se mostrava cada vez mais distante dos versos que tão bem cantou em Bloco do Prazer: a vida tá pouca e eu quero muito mais.
Lindas homenagens. Pêsames solidários para todos nós. Abraço Robson
Com Moraes Moreira foi-se parte da minha juventude. Somos todos Novos Baianos… é ferro na boneca, é no gogó nenem 🎈