Roberto Muggiati lembra Ernie Henry, mais um da lista dos “unsung heroes”
Para ser lido ao som de Ernie Henry em Last Chorus

Em 29 de dezembro de 1957 morria aos 31 anos de overdose de heroína o sax-alto Ernie Henry. Outra noite eu vi – com um atraso imperdoável – o belo filme de Clint Eastwood As Pontes de Madison. Um sax-tenor pungente acompanha os créditos finais, pareceu-me familiar, mas demorei a reconhecer Coltrane, só quando escorreu pela tela a relação das músicas (por que deixam por último? O pessoal da limpeza do cinema quase sempre me enxota da sala…) vi que era Theme for Ernie, do álbum Soultrane.
E esta noite, véspera do aniversário da morte de Ernie, apareceu na tela do YouTube, por pura serendipidade, o próprio saxofonista, tocando All the Things You Are, no álbum póstumo The Last Chorus, o terceiro como líder, na verdade uma compilação. O alto de Henry não busca tocar “bonitinho” e tem o tom incisivo e raivoso de outros órfãos de Charlie Parker (morto em 1955), como Jackie McLean e Phil Woods.
Ernie Henry gravou nos grupos de Dizzy Gillespie, Fats Navarro, James Moody e Thelonious Monk. Participam de The Last Chorus, entre outros, Lee Morgan, Kenny Dorham, Benny Golson, Paul Chambers, Max Roach, Philly Joe Jones. Lançado em 1958, o álbum teve aclamação crítica. Scott Yanow, da revista Allmusic, escreveu: “No geral a música é ótima e, surpreendentemente, não tem nenhum ar de coisa inacabada. Leva a gente a desejar que Ernie Henry tivesse cuidado mais de sua saúde, pois começava a desenvolver uma sonoridade própria”.