Exatos 30 anos depois de sua morte, Tom Jobim precisa ser lembrado. Um bom exemplo é o disco gravado no Palácio da Artes, em Belo Horizonte, em março de 1981, o único registro fonográfico apenas piano-e-voz do maestro
Para ser lido ao som de Antônio Carlos Jobim em Minas ao Vivo – Piano e Voz

Em 1981, Tom Jobim há pouco retornara da temporada nos Estados Unidos. Seu nome há anos já estava na história da música brasileira, mas ele ainda não era a unanimidade que se transformaria pouco antes de morrer, há quase 30 anos. Também tinha dificuldades em encontrar gravadoras que concordassem com seus rígidos padrões estéticos. Talvez isso explique o fato de que uma gravação importante como essa com Tom ao piano, no Palácio da Artes, em Belo Horizonte, em março de 1981, tenha demorado mais de 20 anos para vir à luz. O disco é o único registro fonográfico apenas piano-e-voz do maestro.
Outro motivo, mais prosaico, pode ser a notória timidez do maestro. Aos 54 anos, Tom evitava os shows solos, preferindo dividir o palco com os amigos, como no show do Au Bon Gourmet, em 1962, quando apresentou ao Rio – e ao planeta – sua Garota de Ipanema, junto com o parceiro Vinicius de Moraes, mais João Gilberto e Os Cariocas. Quinze anos depois, ele teria novamente a companhia de Vinicius, mais Toquinho e Miúcha, para outra histórica temporada, que rendeu um disco ao vivo gravado no Canecão. Para espantar o medo, Tom alternava as canções com recordações sobre os amigos e parceiros. Sempre com um copo de uísque ao lado. “Eu estava muito nervoso, porque eu não sou muito de fazer show, né?”, confessa Tom, antes mesmo de tocar uma nota só.
Depois, aparentemente mais à vontade, passa a lembrar histórias e interpretar canções, como Samba de uma Nota Só, Por Causa de Você, Se Todos Fossem Iguais a Você, Água de Beber, Eu Sei que Vou te Amar, Modinha, Chega de Saudade, Dindi, Corcovado, Lígia e Águas de Março. Tom dedica o show a seus parceiros, como Newton Mendonça (presente no disco com duas músicas), depois Dolores Duran (também com duas), Aloysio de Oliveira (com duas), Chico Buarque (com uma) e o recordista Vinicius (com sete).
Para o mercado exterior, o CD não reproduziu as falas de Tom. Apenas o público brasileiro ficou sabendo que quando Vinicius o chamou para ser seu parceiro na trilha de Orfeu da Conceição a primeira coisa que Tom perguntou foi: “Tem um dinheirinho nisso?” Ou também o que Tom pensava sobre Chico: “É craque mesmo, tipo Pelé, Garrincha”.
