Antônio Carlos Miguel prossegue fechando portas e atirando nos pés
Algo como – “Você cospe no prato do rock, mas, mercenário como sempre foi, como explicar essas loas a artistas do gênero na Coleção Folha Rock Stars?”, chegou em mensagem longa, e bem argumentada , de alguém que pediu anonimato.

De alguma forma, e em parte, a justificativa está embutida na pergunta. A necessidade de pagar contas. Só que a volta às “origens” foi mais prazerosa do que imaginara. E até revi opinião sobre o último artista que me coube, Black Sabbath (e Ozzy Osbourne), em volume que ainda não chegou às bancas – deve ser o próximo. É uma banda que sempre adorei detestar, mesmo que, na adolescência, tenha sacudido a juba de cima para baixo com os dois primeiros álbuns, Black Sabbath (1970)e Paranoid (1971).
Coincidentemente, quatro décadas atrás, atendendo a encomenda de Maurício Kubrusly, também tinha escrito um pôster biográfico na série da revista Som Três sobre o quarteto de Birminghan. Na época, início dos anos 1980, Black Sabbath (e o heavy metal em geral e principalmente) já não era a minha xícara de chá. No fim de 2023, podendo ouvir disco a disco, após duas semanas de curso intensivo, até consegui gostar de alguns momentos – e o refrão de Paranoid ocupou minha mente por algumas semanas, “Can you help me? Occupy my brain”.
Mas, se dependesse de mim, escolheria escrever sobre… Steely Dan. Grupo estadunidense que estreou dois anos depois, Can’t buy a trhill (1972) e, logo em seguida, consolidou-se como uma dupla, Donald Fagen e Walter Becker. Em seus dez discos, eles se cercaram de grandes instrumentistas, gente do jazz quase sempre. Ou então, outra dupla estadunidense, Sparks, dos irmãos Ron e Russell Mael, que começou como grupo em 1971 – e que vejo agora, com alguns meses de atraso, lançou novo álbum em maio de 2023, The girl is crying her Latte. Sempre soube da existência – e recebia das gravadoras seus álbuns – mas nunca consegui me interessar. Só fui “descobrir” Sparks após assistir a Anette, o filme de Leos Carax em 2021 estrelado por Marion Cotillard e Adam Drive, que tem enredo e trilha sonora deles, como relatei em artigo aqui em AmaJazz.
Para cada um dos Rock Stars teria opção mais próxima ao que me interessa, mas, a princípio, inviável comercialmente . Então, na sequência dos livretos que me couberam, vamos às alternativas impossíveis, sempre pautado por artistas da mesma época e idioma. Para Rita Lee, que merece todos os superlativos, mas já tem material de sobra sobre, por que não Sueli Costa? Também compositora genial e que nos deixou no mesmo 2023 da sempre mutante.
Para David Bowie, por que não outro estadunidense, Harry Nilsson? Sobre este, cabotinamente, também recomendo um artigo meu para AmaJazz. Mas, Bowie, reouvido disco a disco por duas semanas em outubro passado, também “melhorou”, mesmo que não tenha mudado minha opinião: é um personagem mais interessante do que sua música. Na época de sua morte, em janeiro de 2016, modernos ficaram revoltados quando disse na Globo News que Elton John era um compositor mais sólido.
No lugar de Pink Floyd teria a opção do Soft Machine, grupo inglês com alguns paralelos. Ambos começaram no fim dos anos 1960 na então efervescente cena psicodélica. Após os álbuns de estreia, The Piper at the Gates of Dawn (1967) e The Soft Machine (1968), perderam seus principais cantores e compositores, Syd Barrett (PF) e Kevin Ayers (SM), e seguiram outras trilhas musicais. O Pink Floyd se tornou o mais popular do rock progressivo; o Soft Machine fez, principalmente, nos álbuns Third (1970) e Fourth (1971), a melhor fusão do rock com o jazz – mas, com pouco retorno comercial. A contagem da “Máquina Suave” prosseguiu até 1973, com Seven (e, depois, muitos outros álbuns) mas, sem manter o mesmo interesse, e com muitas mudanças na formação. A começar pelo baterista, cantor e compositor Robert Wyatt, que, debandou em 1972 e, em junho de 1973, pulou ou caiu de uma janela no terceiro andar durante uma festa. Sobreviveu e, paraplégico, tem mantido uma carreira solo que merece atenção. Mais sobre o barbudo e marxista está disponível em AmaJazz, em artigo no qual juntei-o ao barbudo Paddy McAloon, o cara do melhor grupo inglês dos anos 1980 e 90, Prefab Sprout.
Prefab Sprout que seria a minha escolha para o superestimado U2, meu quarto título na série. Sucesso incontestável, postura política correta, sempre ao lado das boas causas, mas, nunca fui arrebatado pela música do quarteto de Dublin. Enquanto a do grupo de McAloon não para de me encantar. Para quem não conhece, três álbuns fundamentais, Steve McQueen (1985), Protest songs (1989) e Jordan: The comeback (1990).
Por fim, para Raul Seixas, Luiz Melodia (leia mais em AmaJazz).
PS: Qual a razão da imagem da abertura, já que o superestimado quarteto de Nova York não é mencionado? Daqui há alguns anos, quando as contas forem maiores do que os recursos, um recurso será fazer um bazar com a memorabilia (e milhares de discos) acumulada através de cinco décadas no jornalismo musical. Principalmente entre os anos 1980 e 2000, quando a indústria então poderosa enviava esse material de marketing acompanhando os seus principais lançamentos.
