Taj Mahal, uma das mais belas e conhecidas composições de Jorge Ben, teve uma trajetória curiosa e atribulada
Taj Mahal, composta em 1972 por Jorge Ben, então com 33 anos, era a última faixa de Ben, sexto disco da carreira do compositor. É aquele em que ele aparece na capa, sentado de lado numa cadeira branca. A música fazia óbvia referência ao histórico mausoléu indiano, um monumento localizado em Agra e que serviu como declaração de amor do imperador Shah Jahan a Aryumand Banu Begam, a preferida entre suas esposas, que havia morrido precocemente após dar à luz ao 14º filho de Jahan.

A primeira versão da canção não tinha letra. Era uma repetição quase mântrica do título acompanhada de um interminável teteterêtê. Um ano depois, Ben faria uma nova versão, agora para o disco 10 Anos Depois e incluiria Taj Mahal em um medley ao lado das canções País Tropical e Fio Maravilha. Dois anos depois, outra versão, igualmente diferente. Em parceria com Gilberto Gil, Ben gravou o disco Ogum/Xangô e para o novo trabalho os dois músicos dividiram a parceria numa jam em que duelavam aos violões e entoavam a canção por longos 14 minutos de duração. Por fim, mantendo a média de quase uma regravação a cada ano, Jorge Ben incluiria Taj Mahal em uma versão mais elaborada e agora com uma letra definitiva. É a que está registrada no álbum África Brasil.
Sucesso planetário, talvez por ter sido incluída no disco ao vivo Jorge Ben a l’Olympia, gravado na França em 1975, Taj Mahal entraria em 1978 no meio de uma grande polêmica que envolveria uma acusação de plágio. Em 1978 o cantor inglês Rod Stewart lançou Da Ya Think I’m Sexy?, canção que apresentava o mesmo encadeamento de notas presente no refrão da composição de Jorge Ben. A questão foi, então, parar na Justiça e o músico brasileiro reivindicou a autoria, abrindo um processo contra Rod Stewart e acusando-o de plágio. Para encerrar a questão, o inglês doou os lucros obtidos com a veiculação da faixa ao UNICEF em 1979. A partir daquele ano, os royalties de Da Ya Think I’m Sexy? passaram a ser – merecidamente – encaminhados para o bolso de Jorge Ben. Em autobiografia lançada em 2012, Rod Stewart admitiu o plágio.
Porém, no mesmo ano de 1979, Jorge Ben receberia uma homenagem mais explícita, mais original, mas nem por isso menos original.

(Foto: Wikimedia Commons)
Henry St. Claire Fredericks Jr., músico americano nascido no Harlem em maio de 1942 e que adotou o nome artístico de Taj Mahal, tomou conhecimento da composição do brasileiro e resolveu adaptá-la ao seu repertório. A surpresa foi Taj Mahal, o músico, ter pegado Taj Mahal, a música, e, mantendo a autoria e as mesmas notas, transformá-la numa quase nova canção, agora batizada de… Jorge Ben!
O registro está no disco Live & Direct. Acompanhado pela International Rhythm Band (Bill Rich, baixo; Kester Smith, bateria; Jumma Santos, congas, timbales; Robert Greenidge, steel drums; Rudy Costa, saxofone alto e soprano, flauta e kalimba, mais um sexteto de backing vocals, Bianca Oden, Carey Williams, Ella Jamerson, Geri Johnson, Ola Marie Tyler, Verlin Sandles), Taj Mahal – já então um artista respeitado pelas parcerias com Ry Cooder e Mick Jagger – pilota um piano elétrico e, à frente da banda, aproveita o tributo que prestou ao músico brasileiro para se autocongratular: no texto da contracapa ele deixa no ar a ideia de que a música teria sido feita em sua homenagem. Um ego tão gigantesco quanto o monumento indiano.
