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Antônio Carlos Miguel comenta e fotografa e filma as duas primeiras noites da versão carioca do C6 Fest

Hoje, sábado 20 de maio, na terceira e última noite no Rio, será a vez do rock. Elenco contemporâneo, longe da nostalgia que assola o gênero, com Terno Rei, Black Country, New Road e The War on Drugs, credenciado para manter o nível de quinta-feira e ontem. Até agora, conteúdo e produção impecáveis desse novo festival idealizado e tocado por gente (Dueto Produções) que tem muita estrada e bons serviços prestados à música.

Diversificada, nessa sexta, a programação jazzística do C6 Fest teve sequência perfeita. Aquecimento energético da dupla Domi (teclados) & JD Beck (bateria); jazz em sua mais clássica acepção com Samara Joy (voz exuberante) e perfeito trio na tradição de piano, contrabaixo e bateria; e o espírito da Nova Orleans contemporânea e lendária de Jon Batiste   irmanado ao das cirandas da pernambucana Lia de Itamaracá, mais uma dezena de ritmistas cariocas, em grand finale majestoso. 

Kraftwerk inaugura o C6 Fest, no palco do Vivo Rio, 18 de maio de 2023. Grupo alemão abre britanicamente o evento, às 21h.

Festival que, na quinta-feira, começou bem na noite eletrônica de Kraftwerk (o grupo alemão entrou em cena com pontualidade britânica, 21h cravadas, e fez cirúrgica e certeira apresentação de uma hora e 15 minutos) e Underworld (duo inglês que mantém qualquer pista acesa).

Com cinco décadas de estrada, a fórmula robótica do quarteto alemão antecipou a entrada da tecnologia na música pop e não ficou para trás. Sons cronometrados e conectados às imagens em movimento nos imensos telões de led ao fundo. Experiência sensorial que continua impactante.

Três vertentes do jazz contemporâneo

Mais sobre a sexta jazzy, comparada àquelas que são as três maiores cantoras do gênero, Samara Joy estaria mais próxima ao estilo de Sarah Vaughan do que aos de Ella Fitzgerald e Billie Holiday.

Samara Joy
Samara Joy

Coisa que reafirmou no palco do Vivo Rio, acompanhada de ótimo trio de piano, contrabaixo e bateria. Se em disco o paralelo com o que já foi gravado em um século, desde as blues singers dos 1920, pode gerar algum cansaço ou o questionamento de “por quê ouvir mais uma?”, ao vivo a moça de 23 anos não deixa dúvida. Grande voz, técnica de sobra a serviço da música sem fronteiras. Mundo no qual Jobim & Vinicius (Chega de saudade) e Djavan (Flor de lis) convivem muito bem com Monk (Round midnight e Worry late), Loesser & Mchugh (Can’t Get out of this mood), Carmichael & Parish (Stardust).

Após a impecável e arrebatadora Samara, Jon Batiste não poupou esforços. Anunciado pelo batuque dos ritmistas cariocas, entrou com bandeirinha brasileira na mão. Nos primeiros números jogou para a plateia, soltou a voz, passou por guitarra, saxofone e piano. Ritmo que parecia frenético demais, mas, aos poucos foi sendo ralentado e fazendo sentido. Crucial no roteiro o número de piano e voz St. James Infirmary blues, centenário spiritual blues que Louis Armstrong gravou em 1928, que Batiste registrou em álbum de 2018, Hollywood Africans. Canções do último disco, We are, como a título e Tell the truth e Freedom, e ainda, em dueto com a vocalista da banda, Night time is the right time, garantiam a noite.

Lia de Itamaracá e Jon Batiste

Mas, Batiste tinha na manga algo, fruto de dois dias de ensaios no Rio, a cirandeira quase octagenária Lia de Itamaracá e uma dúzia músicos brasileiros, entre ritmistas e trombonista. Essa ponte New Orleans-Recife-Rio se estendeu pelo terço final da apresentação, cirandas se encontrando às “Second Lines”, estes, os desfiles com fanfarras que até hoje percorrem as ruas da cidade onde o jazz nasceu. 

JD Beck (Domi &)

Quem experimentou a noite de jazz saiu extasiado. Moleques como o duo formado pela pianista Domi(tille Degalle) e o baterista JD Beck (à esquerda, dínamo concentrado), dando novo sopro e atraindo plateia jovem; ou a cantora Samara Joy, mantendo veteranos e também atraindo novos aficionados; e ainda o já bem rodado aos 36 anos Jon Batiste, fazendo todas e surpreendentes conexões. Brasil no meio.

PS: subo sem revisar, portanto, com possíveis correções!

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Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

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