Roberto Menescal: Mr. Bossa Nova

Antônio Carlos Miguel traça a carreira do compositor, violonista e produtor que teve papel fundamental para o surgimento e a consolidação do estilo e faz show nesta semana em Porto Alegre

Para ser lido ao som de Roberto Menescal em Amazonas, de João Donato

Arte: Daniel Kond

Esta semana, em Porto Alegre:

Roberto Menescal convida Analu Sampaio – Encontro de Gerações

Theatro São Pedro
Quinta-feira, dia 18 de maio, às 20h
Ingressos:
Plateia e cadeira extra R$ 130
Camarote central R$ 110
Camarote lateral R$ 110
Galerias R$ 90
Clique aqui para comprar online

(Arte: Daniel Kondo)

Apesar de seu decisivo papel para a bossa nova, o nome de Roberto Menescal nem sempre costumava estar entre os primeiros associados ao gênero. Na frente viriam João Gilberto, Tom Jobim (e dois de seus parceiros no período, Vinicius de Moraes e, este lembrado apenas por especialistas, Newton Mendonça), Nara Leão, Carlos Lyra, João Donato, Johnny Alf… No entanto, seja como compositor (quase sempre com letras de Ronaldo Bôscoli), violonista ou líder de grupo, ele teve papel fundamental para o surgimento e a consolidação do estilo no fim dos anos 50 e início dos 60.

Além dos aspectos estritamente musicais, Menescal foi um elo entre muitos dos principais personagens da nascente bossa. Nascido em 23 de outubro de 1937 (em Vitória, ES), ainda adolescente, no início dos anos 1950, conheceu Nara Leão na praia de Copacabana. Esta, quase cinco anos mais nova (também nascida em Vitória, em 19 de janeiro de 1942), já sabia de muita coisa. Por exemplo, foi quem o apresentou ao jazz durante os informais saraus que passou a fazer no apartamento de seus pais, na Avenida Atlântica. Logo em seguida, com Nara e Lyra, Menescal criou uma escola de violão, difundindo entre a juventude carioca aquela nova forma de tocar samba. Ainda nessa época, ele herdou o letrista Bôscoli, depois que este rompeu a parceria com Lyra.

Nascia ali, no fim dos anos 1950, a dupla Menescal & Bôscoli, que sintetizou um Rio solar, hedonista, quase paradisíaco. Temática que, para o bem e o mal, viraria uma das marcas da bossa nova, tachada de escapista por parte de seus detratores. Mas, em boa parte, era inspiração vinda do cotidiano de seus praticantes, crônicas da vida à beira-mar, como ilustra a história real do nascimento de O Barquinho. Num dia de verão, Menescal, a namorada Yara (depois sua esposa por toda a vida), os então noivos Nara Leão e Ronaldo Bôscoli, os músicos do Tamba Trio (Luiz Eça, Bebeto Castilho e Hélcio Milito) e o fotógrafo Chico Pereira embarcaram para uma pescaria numa baleeira em Arraial do Cabo que quase se perdeu nas águas do Atlântico. O motor pifou e eles ficaram à deriva por algumas horas, sendo salvos por um navio de pesca que os rebocou até o porto. Enquanto voltavam, influenciados pelos sons do mar e do motor da embarcação, Menescal e Bôscoli criaram o refrão “o barquinho vai, a tardinha cai”. No dia seguinte, a dupla completou a canção que se tornou um dos mais emblemáticos clássicos da bossa nova.

A paixão pelo mar avançou e Menescal acabou trocando a pesca submarina pelo mergulho de observação da fauna e da flora marinhas, tornando-se ecologista antes mesmo de o termo nascer. Essa é outra faceta do músico neo-zen, também especialista em bromélias, ligado às plantas desde a infância. Ele ainda é um interlocutor frequente em temas transcendentais do escritor Paulo Coelho, com quem trabalhou nos anos 70 na gravadora PolyGram, quando começou a amizade que permanece desde então.

A família de Menescal se mudou para o Rio na infância do músico, na década de 1940, radicando-se em Copacabana, no clássico prédio da Galeria Menescal, construído por um tio de Roberto. A partir de fim dos anos 1950, começou a trocar figurinhas com uma constelação que incluía, entre outros, Nara Leão, os Joãos Gilberto e Donato, Tom Jobim, Johnny Alf, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Maysa, Wanda Sá, Marcos Valle, Eumir Deodato, Elis Regina, Moacir Santos. E, mais tarde, como executivo da indústria do disco, trabalhou ainda com Raul Seixas, Gal Costa, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Alcione, Leila Pinheiro, Emílio Santiago…

Nos anos 80, Menescal voltou a atuar como músico em palcos e estúdios, inicialmente, atendendo a um pedido da amiga de adolescência Nara Leão e também os convites das plateias apaixonadas do Japão, país que teve papel influente para a permanência da bossa nova.

Seu maior sucesso é O Barquinho (e era assim que João Gilberto se referia a Menescal), mas a parceria com Bôscoli também rendeu clássicos como RioA Morte de um Deus do SolVocê e Telefone. A partir do momento em que foi trabalhar como produtor musical e, em seguida, diretor-artístico da PolyGram, por motivos éticos, Menescal botou na geladeira o compositor. Naquele início dos anos 70, aquela era maior gravadora no Brasil, com nove entre dez astros da MPB. Uma das exceções nesse período foi Bye Bye Brasil, canção-tema do filme homônimo de Carlos Diegues, que recebeu letra de Chico Buarque.

A partir da década de 1980, Menescal foi o músico e produtor que manteve o gênero em alta. Ele passou a ser requisitado por artistas e executivos da música no mundo todo para garantir o padrão bossa-nova em dezenas de gravações. A lista é infindável, passando por artistas internacionais como Lisa Ono, o “police” Andy Summers, Stacey Kent, Joe Henderson; e, no Brasil, praticamente todos os artistas que importam. No grupo BossaCucaNova, criado pelo seu filho, o contrabaixista Márcio, tem fundido o gênero às últimas tendência do pop e da dance music. Daí, mais qualquer outro, ele merece o título de Mr. Bossa Nova.

2 pensamentos

  1. Bela matéria sobre Roberto Menescal, apresentando, de forma concisa, a importância do movimento musical Bossa Nova, ocorrido a partir da década de 50. Pelo amplo trabalho à frente da Bossa Nova, o nome do músico funde-se ao estilo musical. A Bossa Nova seria, num primeiro momento, inflenciada pelo jazz apreciado por Roberto Menescal e outros. Num segundo momento, foi o jazz que bebeu das águas da Bossa Nova.

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