Roberto Muggiati escreve sobre Choro Negro, resultado da amizade e admiração mútua entre Cristovão Bastos e Mauro Senise, que há muito tempo queriam formar um duo
Para ser lido ao som de Cristovão Bastos e Mauro Senise em Coração Leviano

Uma das mais belas homenagens aos 80 anos de Paulinho da Viola, que fez 80 anos neste 12 de novembro, é o álbum Choro Negro, de Cristovão Bastos e Mauro Senise. Cito um trecho do press release, que tive o prazer de escrever: “O álbum Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola (Biscoito Fino) é o resultado da amizade e admiração
mútua entre Cristovão Bastos e Mauro Senise, que há muito tempo queriam formar um duo. O catalisador foi Paulinho da Viola: Mauro sempre admirou suas melodias, tão modernas e elegantes, e Cristovão é parceiro e compadre do Paulinho. As múltiplas passagens em uníssono entre piano e sopro atestam a força dessa simbiose musical entre Cristovão e Mauro. Com este álbum, Senise acrescenta mais um grande compositor da MPB à sua série de Songbooks, que já inclui Edu Lobo (Casa Forte), Dolores Duran e Sueli Costa (Lua Cheia), Noel Rosa (com Gilson Peranzzetta), Gilberto Gil (Amor até o Fim) e Johnny Alf (Ilusão à Toa). E Cristovão Bastos reforça seu compadrio literal
e figurado com Paulinho da Viola”.
Para enriquecer meu texto com alguma citação de teor mais literário, encomendei um livro à Estante Virtual, mas, quando chegou, o release já estava rolando há muito tempo. Aproveito agora para transcrever as bela síntese de Eliete Eça Negreiros em Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos (Ateliê Editorial, 2011): “Paulinho da Viola é um dos maiores sambistas brasileiros. Suas canções sempre tiveram o poder de comover e fazer refletir e traduzem uma sabedoria acumulada através da vida, sintetizada num momento de criação. Ele ensina muita coisa cantando. Faz sentir e pensar. Assim como a literatura, a pintura. E a filosofia. Quando a gente lê, por exemplo, Rousseau, a gente não só pensa, mas sente o que ele está querendo dizer. Alguns filósofos nos comovem. Bem, foi Paulinho da Viola quem me inspirou a tentar navegar estes mares de agora. E como ele canta num samba: ‘Não sou eu quem me navega/ Quem me navega é o mar’, só espero saber deixar o mar-canção me navegar e, com o relato desta travessia, quem sabe, contribuir um pouco para quem, por ventura, quiser também fazer o mesmo”.
Ouçam também, abaixo, a versão de Coração Leviano, pelo próprio Paulinho, ela mostra o caráter admiravelmente vocal do improviso instrumental de Cristovão Bastos e Mauro Senise.
