Paulinho da Viola: a homenagem do compadre

Roberto Muggiati escreve sobre Choro Negro, resultado da amizade e admiração mútua entre Cristovão Bastos e Mauro Senise, que há muito tempo queriam formar um duo

Para ser lido ao som de Cristovão Bastos e Mauro Senise em Coração Leviano

(Foto: 25º Prêmio da Música Brasileira, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons)

Uma das mais belas homenagens aos 80 anos de Paulinho da Viola, que fez 80 anos neste 12 de novembro, é o álbum Choro Negro, de Cristovão Bastos e Mauro Senise. Cito um trecho do press release, que tive o prazer de escrever: “O álbum Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola (Biscoito Fino) é o resultado da amizade e admiração
mútua entre Cristovão Bastos e Mauro Senise, que há muito tempo queriam formar um duo. O catalisador foi Paulinho da Viola: Mauro sempre admirou suas melodias, tão modernas e elegantes, e Cristovão é parceiro e compadre do Paulinho. As múltiplas passagens em uníssono entre piano e sopro atestam a força dessa simbiose musical entre Cristovão e Mauro. Com este álbum, Senise acrescenta mais um grande compositor da MPB à sua série de Songbooks, que já inclui Edu Lobo (Casa Forte), Dolores Duran e Sueli Costa (Lua Cheia), Noel Rosa (com Gilson Peranzzetta), Gilberto Gil (Amor até o Fim) e Johnny Alf (Ilusão à Toa). E Cristovão Bastos reforça seu compadrio literal
e figurado com Paulinho da Viola”.

Para enriquecer meu texto com alguma citação de teor mais literário, encomendei um livro à Estante Virtual, mas,  quando chegou, o release já estava rolando há muito tempo. Aproveito agora para transcrever as bela síntese de Eliete Eça Negreiros em Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros escritos (Ateliê Editorial, 2011): “Paulinho da Viola é um dos maiores sambistas brasileiros. Suas canções sempre tiveram o poder de comover e fazer refletir e traduzem uma sabedoria acumulada através da vida, sintetizada num momento de criação. Ele ensina muita coisa cantando. Faz sentir e pensar. Assim como a literatura, a pintura. E a filosofia. Quando a gente lê, por exemplo, Rousseau, a gente não só pensa, mas sente o que ele está querendo dizer. Alguns filósofos nos comovem. Bem, foi Paulinho da Viola quem me inspirou a tentar navegar estes mares de agora. E como ele canta num samba: ‘Não sou eu quem me navega/ Quem me navega é o mar’, só espero saber deixar o mar-canção me navegar e, com o relato desta travessia, quem sabe, contribuir um pouco para quem, por ventura, quiser também fazer o mesmo”.

Ouçam também, abaixo, a versão de Coração Leviano, pelo próprio Paulinho, ela mostra o caráter admiravelmente vocal do improviso instrumental de Cristovão Bastos e Mauro Senise.

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