Don Martin, o mais maluco desenhista da revista mais maluca, foi também um inspirado autor de capas para discos de Miles Davis, Stan Getz e J.J. Johnson
Para ser lido ao som de Sonny Stitt, Bud Powell & J.J. Johnson

Seus desenhos eram formados por traços e sons. Eram ruídos e onomatopeias que interagiam com imagens. Don Martin foi o criador de uma obra que permitia ser vista e também ouvida, como se tudo aquilo que ele escrevia fosse possível se descolar do papel e atingir os ouvidos. Seu arsenal de sons era inesgotável. Don Martin era puro jazz. Como um Ornette Coleman com uma caneta na mão, Don Martin gostava de barulhos exagerados: FLADAPP, DADUNT, BUKKIDA BAKKIDA, SHKLIZZORTCH, NNYEEOWNNT, CRUGAZUNCH e FPFWORPFT. Até na placa do seu carro, Don Martin deixava sua marca. Era SHTOINK.
Don Martin era também o mais maluco da revista mais maluca. Os desenhos lunáticos, muitas vezes asquerosos, com personagens bizarros (os olhos tristes e os pés arrebitados eram marcas registradas) e quase sempre non-sense ajudaram-no a revolucionar o humor norte-americano, misturando doses de iconoclastia com a contracultura dos anos 60.
Mas antes de fazer parte do elenco da MAD – ao lado de parceiros como Sergio Aragonés, Jack Davis, George Woodbridge, Paul Cocker Jr. e Al Jaffee – Don Martin já estava na história da música. Em 1956, Don Martin fez várias capas de álbuns para a Prestige. Foram discos de Miles Davis (Miles Davis & Horns), Sonny Stitt, Bud Powell & J.J. Johnson, Kai Winding (Trombone By Three) e Stan Getz (The Brothers). O traço em nada lembra o estilo que o consagrou. As peças não são engraçadas, tampouco facilmente reconhecíveis. Eram desenhos mais sóbrios, inspirado em outros artistas como Saul Steinberg, Basil Wolverton ou Virgil Partch.
Foto: Reprodução
Anos mais tarde, já trabalhando para MAD, Don Martin voltaria a ilustrar capas de discos. Foram cinco álbuns baseados em percussão montados por Pierre Du Jardin. As capas agora tinham exatamente o estilo que Don Martin havia estabelecido no MAD.
A colaboração com a revista havia começado em 1956, quando Don Martin vendeu sua primeira tira de quadrinhos. O casamento artístico durou por mais de três décadas, até 1987, quando o desenhista se desentendeu com o editor William M. Gaines por conta de pagamentos de direitos autorais. Revoltado, Don Martin passou a desenhar para a rival, Cracked.
Don Martin enfrentaria nos últimos anos de vida uma séria doença generativa nos olhos que o obrigou a recorrer a um transplante de córneas. Nem assim sua situação melhorou e Don Martin precisou passar os últimos anos desenhando com o auxílio de lupas e lentes especiais. Vítima de câncer, Don Martin morreria aos 68 anos em janeiro de 2000.
Muito bom, Márcio! A seção Don Martin era a minha preferida na MAD.