Lembranças do artista cada vez mais presente em nossas vidas
Naquele fim da manhã de 8 de dezembro de 1994, num hospital de Nova York, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim partiu, mas, sua música não silenciou. Àquela altura, já tinha se espalhado ao redor do mundo. Desde o início dos anos 1960, graças à simbiose de leveza, profundidade, frescor, lirismo, balanço, sofisticação, simplicidade. Tudo junto, encantando e sendo cantada, tocada por artistas dos mais diferentes gêneros.

Já me encontrava na redação d’O Globo quando chegou a notícia da morte, o corpo inerte em um hospital de Nova York, a mesma cidade onde, 14 anos antes, num mesmo 8 de dezembro, John Lennon tinha sido assassinado. Lembro-me de que fizemos um obituário pífio no Segundo Caderno. “Hoje, enterramos um chato!”, falou em alto e péssimo som um dos responsáveis ao liberar para a gráfica nossa edição. O mesmo, meses depois, vaticinou que Kurt Cobain (que se suicidara oito meses antes) seria mais lembrado no futuro do que Tom. Imagino que o colega tenha revisto sua opinião, soterrada por centenas de evidências. Na manhã seguinte, fomos confrontados pelo JB, que (então ainda muito influente) dedicou a Jobim praticamente todo o jornal, cada editoria focando algo da personalidade e da obra do artista e ser humano que nos deixava aos 67 anos de vida. Dois meses antes, tivera meu último encontro com Tom, no estúdio na Barra da Tijuca onde ele botou voz em “Fly me to the moon”, o reencontro virtual com Frank Sinatra, no disco “Duets II”. Reproduzo aqui a reportagem que foi capa no Segundo Caderno de 14 de setembro de 1994.
Trinta anos depois, as regravações se sucedem, sejam os sucessos mais batidos (e sempre encantadores) ou álbuns completos, tributos, por gente da MPB, do jazz, do pop, do clássico, do funk carioca. Não para, não para.
No Rio, desde outubro, “Tom Jobim Musical” (no Teatro Casa Grande, em temporada que vai até o fim de fevereiro) encena sua história através de cerca de 30 canções. Música (bem tocada e base para belos números coreografados) que garante o interesse de uma peça com seus equívocos.

Há duas semanas chegou ao streaming mais um tributo, o álbum “Jobim Canção” (Biscoito Fino). Dez músicas segundo um precioso viés camerístico, nas mãos (e gargantas) de Paula Morelenbaum (uma das cantoras da Banda Nova, companhia nos palcos e nos estúdios durante a última década de Tom) e Arthur Nestrovski (violão e voz). É pouco, deixa a sensação de que cabia muito mais, afinal, tão vasta é a obra. Mas, esse disco não está só, caminha em paralelo com “A arte de Jobim”, seis videoaulas, também com Paula e Nestrovski, disponíveis no canal da “piauí” no YouTube.

Tem mais. Nesse domingo, aniversário dos 30 anos de morte, no palco do Vivo Rio (às 20 horas), acontece o show “Um Tom sobre Jobim”, de Stacey Kent & Danilo Caymmi. Os dois e banda, com direção musical do violonista e arranjador Flávio Mendes e participação especial do saxofonista Jim Tomlinson. Ela é uma brasilianista, cantora (e também compositora) de jazz nascida em Nova Jersey que já gravou com Marcos Valle e o próprio Danilo; este, outro egresso da Banda Nova, onde tocava flauta, mas, instigado por Tom, virou cantor, garantido pela musicalidade e pelo timbre grave dos Caymmi. Em 2017, ele lançou “Danilo Caymmi canta Tom Jobim” (Sony Music), com participação de Stacey em “Estrada do sol”. A mesma estrada foi trilhada no dueto de Carminho e Marisa Monte, no álbum que a portuguesa fez em 2016 para a Warner Music Portugal, outro dos muitos “…canta Tom Jobim” rodando sem parar por aí.
Além dos tributos, a discografia de Jobim é outra fonte fundamental. Está quase tudo na nuvem, mesmo que possa melhorar. O álbum “Passarim”, lançado em 1987, ainda aguarda uma versão brasileira no formato digital. Explicando, tanto em CD quanto em streaming, o disco segue a ordem da edição que circulou fora do Brasil, abrindo com “Passarim” em inglês. Também estão no idioma de Shakespeare “Anos dourados” (ou “Looks like December”, segundo a adaptação feito pelo próprio Tom) e “Samba do Soho”. Se as “Portuguese versions” das duas primeiras entram como faixas-bônus no fim do disco, o samba de Paulo Jobim e Ronaldo Bastos não teve a mesma sorte.

Há também material inédito de Jobim para vir a público. Em março passado, durante um coquete no consulado suíço no Rio, perguntei a Dalal Achcar sobre “Forever green”, canção ecológica que ela encomendara a Tom para o “Concert for Planet Earth” (em junho do 1992, durante a pioneira Conferência Internacional do Meio Ambiente / ECO – 92.) Mas, a coreógrafa tinha algo muito mais surpreendente, a trilha para um balé inédito, “Água dos meninos”, que Jobim compôs por volta de 1962 e nunca foi montado. Uma cópia da partitura já está no Instituto Antonio Carlos Jobim, sendo estudada pelo seu diretor, o músico Aluisio Didier, e Dalal deve finalmente montar o balé em 2025.

Sintetizou minha emoção, ao ler, com o coração, seu texto: magnífico! Também respiro música desde que me entendo por gente; filha e neta de maestro, dos dois lados, aprendi o que é a música como um deleite para a alma. Tom foi o maior, de todos os tons. E por isso, e muito mais, é imortal. Você arrasou!
Obrigado. Tom sempre! Abraços
Muito bom sdaber, obrigado
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