Mais antigo e cultuado clube de jazz de Nova York, o Village Vanguard continua, aos 83 anos, honrando a tradição vanguardística do local
Para ser lido a som de John Coltrane Live at the Village Vanguard Again
Na porta há um toldo vermelho, com o nome do lugar em letras brancas, facilmente reconhecível por qualquer um que tenha um mínimo de intimidade com o jazz. Lá dentro – depois de descer uma escada de 15 degraus – são exatos 123 lugares voltados para um palco tão modesto quanto histórico. O Village Vanguard, que abrigou de John Coltrane a Lenny Bruce, de Miles Davis a Woody Allen, de Woody Guthrie ao escritor-andarilho Joe Gould, teve em 1982 uma biografia escrita por quem mais entende de Village Vanguard: Max Gordon, seu fundador e – até a sua morte em 1989, aos 86 anos – seu principal dínamo. Depois disso, o local continuou a ser comandado em família, com a viúva de Gordon, Lorraine, assumindo o Village Vanguard e mantendo o alto nível da programação. Lorraine morreu no último dia 9, aos 95 anos.

Nascida em Newark, Nova Jersey, em 1922, Lorraine sempre esteve próxima do jazz. Aos 20 anos, casou-se com Alfred Lion, um dos fundadores da Blue Note, com quem ficaria por sete anos até casar-se com Gordon, a quem acompanharia pelo resto da vida dele. Ao lado do marido, ela modificou a cena musical de Nova York, abrindo espaços a novos talentos e honrando o nome vanguardístico do local. Em paralelo, Lorraine teve ainda um forte ativismo político, protestando contra os testes nucleares e dedicando-se aos temas feministas. Assim como o marido, Lorraine também deixou suas memórias registradas em livro, Alive at the Village Vanguard, publicado em 2006.
Já Ao Vivo no Village Vanguard (livro lançado pela Cosac&Naify há doze anos) recupera através da memória do fundador do local alguns dos momentos mais expressivos do que foi feito musicalmente em Nova York durante mais de cinco décadas. O Village Vanguard virou sinônimo de programação de qualidade. Mais: Max Gordon conseguiu se transformar num dos poucos donos de casas noturnas respeitado pelos músicos. Até os de convívio mais difícil – como Charles Mingus e Sonny Rollins – faziam questão de abrir espaço nas agendas para se apresentar no Village Vanguard.
E foi da convivência com os músicos que Gordon aperfeiçoou o sentido de improviso. Assim, o livro reproduz o clima dos mais de 100 discos gravados no local e tem, como sublinha o crítico Nat Hentoff na introdução, um ensinamento fundamental: “Escrever é sentir um ritmo e depois se deixar levar por ele”.
