Outros e múltiplos

Obra inovadora do Grupo Um chega ao streaming

Após a morte Hermeto Pascoal (13 de setembro), pesquei do baú fotográfico registro de um show na Sala Cor e Som, do MAM/RJ, em agosto de 1976. Entre os músicos de seu grupo na época estavam os irmãos Lelo e Zé Eduardo Nazario, respectivamente, piano e bateria, que, no fim daquela década, formaram o Grupo Um. Único em sua mistura de acústico, eletroacústico, eletrônico, improviso jazzístico, elementos da vanguarda e da diversidade rítmica brasileira. 

E também um coletivo, pelo qual passaram diversos instrumentistas, como listo no texto que colo abaixo, uma encomenda de Irati (diretora de produção do UtopiaStudio) e Lelo Nazario, para se juntar a tantos outros artigos sobre a obra do Grupo Um. Após edições em vinil e CD, no início de 2025, seus discos começaram chegar às plataformas de streaming. Com longos intervalos, em meio também aos trabalhos solos de Lelo Nazario (link) e Zé Eduardo Nazario, o grupo se manteve. 

PS: hoje, 20 de outubro, colo mais informações sobre o Grupo Um, em mensagem que recebi de Irati e Lelo Nazario:

A matéria vem bem a calhar neste momento em que estamos lançando “A Flor de Plástico Incinerada” pela primeira vez em versão digital. O álbum já está disponível no Bandcamp, e será lançado nas plataformas de streaming a partir de 24/10/2025.

Este lançamento dá prosseguimento às comemorações dos 50 anos de fundação do Grupo Um, cuja programação já contou com o lançamento digital de “Marcha Sobre a Cidade” e de “Reflexões Sobre a Crise do Desejo…/”, a publicação de dois livros (de 90 páginas cada um) e a realização do concerto “Grupo Um – 50 Anos de Vanguarda” no Sesc 14 Bis e no Sesc Belenzinho.

O lançamento digital de “A Flor de Plástico Incinerada” vem acompanhada de um livro (com 140 páginas), também digital – segue anexo para você conhecer.

 Livro, release, capa do álbum com o selo comemorativo de 50 anos, fotos, cartaz etc. estão disponíveis aos jornalistas aqui: A Flor de Plástico Incinerada – Media kit.

 Para ouvir o álbum: A Flor de Plástico Incinerada – Música.

 O livro também está disponível como bônus para quem adquirir o álbum no Bandcamp.

 O release traz informações sobre o álbum e sobre a programação de aniversário, além de um breve histórico do grupo.

 Para o final do ano (ainda sem data definida), esperamos o lançamento do disco inédito do grupo, intitulado “1977”, ano de sua gravação, pelo selo Far Out Recordings.

 Lelo e eu esperamos que você goste do livro, que traz diferentes artigos, depoimentos, fotos e muitas histórias.”

Único e múltiplo

Em síntese, o Grupo Um é um duo, formado pelos irmãos Nazario. Lelo (piano e teclados) e Zé Eduardo (bateria e percussão) criaram o projeto em meados dos anos 1970, quando fizeram parte da banda (e escola informal de música) de Hermeto Pascoal. Desde então, em apresentações e discos, outros músicos se juntaram e contribuíram decisivamente para o resultado conseguido nos três álbuns oficiais, lançados entre 1979 e 1982, que agora ganham reedição em streaming. Entre os que se alternaram nas diversas formações estão os contrabaixistas Zeca Assumpção, Rodolfo Stroeter e Frank Herzberg, o percussionista Carlinhos Gonçalves, instrumentistas de sopros e metais como Mauro Senise, Roberto Sion, Teco Cardoso, Márcio Montarroyos e o também pianista/tecladista alemão Felix Wagner. Ou seja, o Grupo Um também é  um coletivo,  de muitos.

Independente de nomes e números, pelo que mostrou nesses discos – e em mais dois lançados já no século XXI, um com registros de 1975 e outro gravado ao vivo em 2016 – é um trabalho único. Original e inovador em sua proposta de uma música instrumental que avançou na mistura de acústico, eletroacústico, eletrônico, improviso jazzístico, elementos da vanguarda e da diversidade rítmica brasileira. Equação que, ao surgir, teve instantâneo reconhecimento no nicho em que o Grupo Um transitava, tanto no Brasil quanto na Europa. Interesse que se manteve através das décadas, como provaram as eventuais reuniões e os álbuns lançados ou reeditados desde então. Discografia que, em breve, ganhará outro trabalho inédito gravado em 1977.

Vale lembrar que, nos anos 1970, o nicho do instrumental e do jazz era bem maior no Brasil. Os grupos de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti (com quem Zé Eduardo também tocou) faziam constantes turnês pelo país (e fora também), lotando teatros e praças públicas. Artistas brasileiros ainda vinham contribuindo nos EUA e na Europa para as muitas vertentes do que então ficou conhecido como jazz-rock, ou, em uma definição mais abrangente, fusion jazz. Fusão na qual cabiam diferentes propostas. Algumas se esgotaram rapidamente, outras, mais arrojadas, ampliaram os caminhos e as possibilidades para a música instrumental. E é entre estes que se encaixa o singular Grupo Um.

A primeira fase vai até 1984. A partir daí, em meio a diversos projetos – incluindo o Duo Nazario ou os discos solo de Lelo Nazario e Zé Eduardo Nazario -, ocorreram eventuais reuniões. Uma delas, a participação no festival Jazz na Fábrica, em 2015, no Sesc Pompeia, virou o CD “Uma lenda ao vivo” (2016). Entre 2002 e 2010 também foram editados no Brasil pelo selo Editio Princeps e distribuídos no Japão pela Marquee, com faixas bônus até então inéditas, os três álbuns oficiais: “Marcha sobre a cidade” (1979), “Reflexões sobre a crise do desejo” (1981) e “Flor de plástico incinerada” (1982).  Enquanto, em 2023, a gravadora inglesa Far Out lançou “Starting point”, um EP que, como o título diz, flagra as primeiras gravações do grupo, em 1975, e nunca editadas até então. 

O lançamento agora em streaming da discografia coincide com o aniversário de 50 anos da formação do Grupo Um. E, em 2025, esses trabalhos soam tão vivos, inovadores e atemporais como na época em que foram concebidos.

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Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

Nenhum pensamento

  1. O Grupo Um tem um som de muita qualidade, com instrumentistas competentes nas formações que fizeram, explorando vários tecidos da música instrumental de modo atemporal.

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