Reimpressões de Berlim

Na tarde desse sábado, 27 de setembro, o centro da capital alemã foi tomado por enorme manifestação contra o genocídio em Gaza

Marcada para começar às 14h, a marcha “Zusammen für Gaza” saiu da Alexanderplatz (imortalizada no filme de Fassbinder) e percorreu o centro político e administrativo de Berlim. Saltamos do metrô em Unter den Linden por volta das 17h e encontramos um mar de gente. Cem mil, 200 mil? Talvez muito além dessa estimativa (ainda mais sem Datafolha para diminuir). Gente de todos os tipos e idades contornando o Portão de Bradenburgo e entrando pelo Tiegarten (o maior parque, no coração da cidade), onde aconteceu a dispersão, perto das 20h. No trajeto, muitas bandeiras da Palestina, do partido de extrema esquerda alemão, carros de som, coros de “Free Palestine”, “Viva viva Palestina”, “Pare o genocídio” em inglês e alemão…

Eventos como esse mantêm a esperança em mudanças.

Em nossa terceira passagem, Berlim continua amigável. Ainda mais com um filho que, há quase uma década, aqui reside e serve de orientador. Afinal, para quem não domina o idioma de Friedrich Nietzsche e… Nina Hagen, é impossível acompanhar conversações. Já os anúncios no transporte público quase sempre têm versão reduzida em inglês. A leitura também é difícil, mas, instrumentos de IA no celular traduzem cardápios, permitem, no supermercado, compreender os rótulos e diferenciar , por exemplo, detergente de louça de sabão líquido.

Atentos ao recurso de palavras compostas tão habitual no alemão, após dez dias, ficou mais fácil interpretar as referências urbanas. Os finais dos nomes, alguns quilométricos, têm significado: por exemplo, “allee”, “brücker”, “damm”, “park”, “platz”, “strasse” e “tor”, respectivamente, avenida, ponte, dique/barragem, parque, praça, rua (esta a mais comum) e portão.

Plana, cortada pelo rio Spree e por muitos canais, repleta de praças arborizadas e grandes parques idem, Berlim se espalha por grande área. Prédios de não mais de cinco andares, mantendo padrão que vem do século XIX, a maioria reconstruídos no pós-guerra, respondem por 90% das edificações da cidade. Uma eficiente rede de transporte público atende a locais e turistas. Muitos destes, como nós, meio perdidos com o aplicativo que permite comprar passagem única, diferentes pacotes, trechos de 20 minutos ou de duas horas – desde que num sentido só, para voltar tem que habilitar outro bilhete. Aos poucos, vamos dominando o app que serve para metrô, ônibus, VLT, trem urbano.

A superfície sem morros da cidade faz de bicicletas a opção de muitos berlinenses, em todas as faixas etárias. Motos são raras, ainda mais para quem vem do Rio de Janeiro.

Nos bairros que temos transitado mais, Wedding, Kreuzberg (com sua atraente feira, da “Glória”, turca às terças e sexta-feiras), Prenzlauer Berg, outro contraste visível com o Rio, e grandes cidades brasileiras em geral, é o comércio local. Pequenas lojas, muitas com a placa de fechada mesmo em horários comerciais; restaurantes que só abrem quatro ou cinco dias por semana; e raras redes, sejam de supermercados (até agora, vimos apenas uma), fast food ou farmácias. Sobre este último item, imagino que a Zona Sul carioca, especialmente Ipanema e Copacabana, seja digna de estudo, com quarteirões que têm até seis, sete farmácias, incluindo da mesma rede.

Voltando a Berlim, nela, o que proliferam são cafés, barbearias e corvos. Enquanto muros, postes, paredes mostram que é permitido colar cartazes. E protestar contra o genocídio em Gaza.

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Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

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