So long, Solal

Roberto Muggiati escreve sobre Martial Solal, que ensinava: “Você precisa tocar as coisas mais difíceis com relax total

Para ser lido ler ao som de Martial Solal em New York Herald Tribune, da trilha sonora original do filme Acossado (À Bout de Souffle)

Quando vejo um filme noir francês encontro sempre na trilha o Martial Solal. Não deu outra há poucos dias vendo Deux Hommes dans Manhattan (1959), de Jean-Pierre Melville. Ele coassina a trilha com Christian Chevalier e aparece tocando vibrafone num estúdio de gravação. Como de costume, fui conferir a quantas andava meu velho amigo na Wikipedia. Não andava mais, tinha morrido em 12 de dezembro de 2024, aos 97 anos. Martial Solal nasceu em Argel, capital da colônia francesa Argélia. Filho de judeus, correu o risco, na adolescência, de se tornar mais uma vítima do Holocausto, pois a República de Vichy era simpatizante do Eixo. Sua mãe, cantora de ópera, o convenceu a estudar saxofone, clarineta e piano, ele se aprofundou no teclado e aprendeu também a tocar vibrafone. Aos quinze anos já se apresentava para plateias de soldados americanos. Em 1950, mudou-se para Paris, onde tocou com gigantes do jazz, como o guitarrista Django Reinhardt e os saxofonistas Sidney Bechet e Don Byas. Começou a fazer música para filmes, em 1960 o mundo despertou para seu talento de compositor na trilha de Acossado, o filme de estreia de Jean-Luc Godard. A fórmula de sucesso um homem-uma mulher-uma trilha seria reeditada em 1972 por Bernardo Bertolucci, com a mesma cidade por cenário, agora em cores, n’O Último Tango em Paris: saem Jean-Paul Belmondo-Jean Seberg-Martial Solal, entram Marlon Brando-Maria Schneider-Gato Barbieri. Ele definiu o seu estilo com verve e inteligência: “Você tem de levar as pessoas a acreditarem que é muito fácil, mesmo quando é muito difícil. Não é legal demonstrar problemas de técnica. Você precisa tocar as coisas mais difíceis com relax total”. Martial Solal foi o parceiro sonhado por todo músico de jazz. Gravou dois álbuns excepcionais com saxofonistas: When a Soprano Meets a Piano (1957), com Sidney Bechet; e In and Out (2000), com Johnny Griffin.

Nenhum pensamento

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.