Evento na União Brasileira de Compositores reuniu criadores, editores e produtores de conteúdo de diversas partes do mundo
Gente de diversas partes do mundo, representando associações de criadores, editores, produtores e demais ligados ao que podemos chamar de indústria da música, compareceu, ontem, na noite de águas de março fechando o verão, na sede da União Brasileira de Compositores. O convite anunciava a abertura da nova Casa UBC e, no belo prédio no Centro, às margens das águas da Guanabara, via-se o resultado da intervenção arquitetônica: dois andares foram integrados a partir de um buraco que transformou o 12º em espécie de mezanino, com visão do habitual palco no 11º. Lances de escada larga completam a integração, que quase duplicou a capacidade de presentes no local usado para celebrações e apresentações musicais.
O regabofe manteve o padrão de qualidade que caracteriza os eventos sociais-corporativos da entidade e, que, ontem, teve como extra os acarajés de uma baiana a rigor. Ela contou ter chegado ao Rio para um mês que tem se estendido por 25 anos, com a barraca pousada nos arredores da Praça 15. Dobrou o feito do saudoso João Donato (filiado à concorrente Abramus), que chegou em Los Angeles em 1959 para uma temporada de um mês em cassino no Lake Tahoe (na fronteira com Nevada) e só voltou 13 anos depois.

Gente de diferentes gerações e, como frisado, idiomas, no que pode configurar uma UIC. Internacional de compositores, abrangendo diversas atividades ligadas à criação de conteúdo artístico (e que também é comercial, industrial, financeiro) que se reuniram no Rio nos últimos dias por um propósito: encontrar formas eficientes, e também mais justas com os criadores, para sobreviver em um mundo que vive em acelerado processo de transformação.
Nomes não vêm ao caso, já que não fui cobrir o evento, mas, há um consenso da necessidade da regulação da IA. O que, se formos mais fundo, leva à regulação das big techs.

No elevador para a confraternização, fui apresentado como “crítico musical mais severo” (algo no gênero) a jovem cantor e compositor prestes a botar conteúdo nas plataformas. Mas, em cinco décadas de atuação no meio, acompanhei as mudanças no mundo de sons e pausas combinadas pela inteligência humana movido por genuína paixão. Ou obsessão. E sujeito a falhas em minhas reportagens e resenhas, avaliações que mudaram através do tempo, gostos que se discutem, e mudam.
Nas críticas à indústria, penso ter mais acertado e contribuído do que errado. Quando, na virada do milênio (a época das vendas além do milhão) a migração para o que se tornou o modelo do streaming começou, insistia na tecla de que gravadoras tinham que mudar. Quem me garantia isso era visão dos então jovens pelas ruas com seus fones de ouvido umbilicalmente conectados a tocadores de música. Tema que já se desenvolvi aqui na AmaJazz (Sobre a ilusão do DVD áudio) e, por hoje, não vou retomar.
O que gosto é música, apropriando-me do koan de Hélio Oiticica (“O q faço é música”, depois usado por Macalé para batizar um álbum). Mas, como jornalista e cidadão, não posso ignorar tudo o que está em volta, por trás, por cima. Reencontrando gente que conheci nas últimas décadas de atividade, dos anos 1970 até recentemente, pude confirmar a vontade comum em fortalecer a música.
Quanto à Inteligência Artificial, para o bem e o mal, acompanha a humanidade desde sempre. Máquinas de calcular (ou o ábaco, criado há mais de cinco mil anos na Mesopotâmia) provam isso. A questão é sobre o uso. Olhando o lado ruim, cotidianamente aturamos a IA burra (que será melhorada, ou se auto melhorará), e temos que enfrentar a IA má.
Mais sobre ontem, que vazei quando a música começou, para fugir da chuva forte que finalmente desabou, fica para um PS. Pedirei a assessores da UBC se é possível a lista completa das entidades de outros países presentes. Estampadas nos rostos de traços orientais, africanos, europeus e de nosotros misturados latino-americanos; audíveis em idiomas e sotaques igualmente diversos. Como também não cliquei, peço permissão a milenares artistas em cavernas para usar imagens que pesquei na rede.
