Itamar Alves vai de London London a Shy Moon e não se engana com esta última
Para ser lido ao som de Caetano Veloso em London London

Ouvindo London London na semana e, caramba, como Veloso já estava com plenos poderes líricos no final da década de 60. Sequer estamos falando de língua portuguesa.
A letra da canção é metricamente impecável. Cria ecos semânticos e sintáticos ao longo dos versos, enquanto reconfigura palavras com uma simplicidade que deve ter dado um trabalhão para ajustar.
Desde a primeira estrofe, que gira em direção a lugar nenhum –com controle fonético absoluto –, Caetano descreve gente, ruas, meses e estações, como uma espécie de espelho invertido da euforia de Alegria, Alegria. Vão-se as bombas e o sol nas bancas de jornal, chegam a solidão e o céu de chumbo.
Na temporada londrina, Transa é o disco que ganha os louros, mas a estreia gringa é o tiro perfeito na passagem para língua estrangeira. Na segunda ida ao estúdio ele já estava tão à vontade que misturava os idiomas mais livremente.
O hombre não parou por aí. Vez ou outra na carreira, ele arrisca em inglês e cria baratos joia, como Jasper, que utiliza escalas orientais e cria um passeio onírico recheado de substantivos alinhadamente desconexos. Canção matadora.
Já Shy Moon, um porre. Melodia vagabunda, letra meio preguiçosa (para o patamar do autor) e cheiro de “deixa eu participar do techno pop também, gente”, aquelas chinelagens em que o baiano gosta de se meter. Por isso Ritchie, o maior artista em vendas no Brasil daquele momento.
Agora saiu a versão recauchutada de Shy Moon. Novamente é a vibe Ritchie que comanda o espírito da gravação. Se em 1984 era o menino veneno sintetizado, em 2025 é o progster flautista inglês que dá as caras.
Continua uma chatice.

Quem é Itamar Alves?