I cross the streets without fear

Itamar Alves vai de London London a Shy Moon e não se engana com esta última

Para ser lido ao som de Caetano Veloso em London London

Foto: Wikimedia Commons

Ouvindo London London na semana e, caramba, como Veloso já estava com plenos poderes líricos no final da década de 60. Sequer estamos falando de língua portuguesa.

A letra da canção é metricamente impecável. Cria ecos semânticos e sintáticos ao longo dos versos, enquanto reconfigura palavras com uma simplicidade que deve ter dado um trabalhão para ajustar.

Desde a primeira estrofe, que gira em direção a lugar nenhum –com controle fonético absoluto –, Caetano descreve gente, ruas, meses e estações, como uma espécie de espelho invertido da euforia de Alegria, Alegria. Vão-se as bombas e o sol nas bancas de jornal, chegam a solidão e o céu de chumbo.

Na temporada londrina, Transa é o disco que ganha os louros, mas a estreia gringa é o tiro perfeito na passagem para língua estrangeira. Na segunda ida ao estúdio ele já estava tão à vontade que misturava os idiomas mais livremente.

O hombre não parou por aí. Vez ou outra na carreira, ele arrisca em inglês e cria baratos joia, como Jasper, que utiliza escalas orientais e cria um passeio onírico recheado de substantivos alinhadamente desconexos. Canção matadora.

Já Shy Moon, um porre. Melodia vagabunda, letra meio preguiçosa (para o patamar do autor) e cheiro de “deixa eu participar do techno pop também, gente”, aquelas chinelagens em que o baiano gosta de se meter. Por isso Ritchie, o maior artista em vendas no Brasil daquele momento.

Agora saiu a versão recauchutada de Shy Moon. Novamente é a vibe Ritchie que comanda o espírito da gravação. Se em 1984 era o menino veneno sintetizado, em 2025 é o progster flautista inglês que dá as caras.

Continua uma chatice.

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