Com Timeless, Sergio Mendes tentou, 40 anos depois de deixar o país, se aproximar dos sons brasileiros
Para ser lido ao som de Sergio Mendes em Timeless

A única vez em que conversei com Sergio Mendes – ainda na época dos jornais impressos e das entrevistas feitas por telefone com fio (???!!!) foi há 18 anos, em 2006, quando ele, já o nome musical brasileiro mais popular nos Estados Unidos, ao lado de Tom Jobim e de Carmen Miranda, estava lançando o disco Timeless.
Nome mais respeitado nos Estados Unidos do que no Brasil, Sergio Mendes, então, morava por lá havia mais de quatro décadas, mas ainda tinha como obsessão ocupar um lugar especial no panorama musical brasileiro. Timeless era mais uma tentativa de aproximar os sons do país onde vivia com os sons do seu país de origem. O disco era um manifesto sonoro e flagrava Sergio Mendes, à época com 65 anos, vivendo um jejum de 10 anos sem gravar um disco. Outra data redonda, os 40 anos do estouro da versão do pianista com Mas Que Nada, também servia de pretexto para o lançamento do CD, que aproximava o samba e a bossa nova do rap e do hip hop.
Mesmo que estivesse com os ouvidos voltados para o passado – com um repertório que incluía Berimbau/Consolação e Samba da Benção (de Baden Powell e Vinicius de Moraes), e Bananeira (de João Donato e Gilberto Gil) – Sergio Mendes procurava seguir o que o título indica e fazer um disco eterno, atemporal. Fundamental nesse processo de atualização com as novas sonoridades foi a parceria com o rapper Will.i.am, líder do grupo The Black Eyed Peas. “Ele me procurou na minha casa em Los Angeles, disse que era meu fã e que gostaria de fazer um trabalho ao meu lado”, me falou Sergio Mendes. “Achei que seria importante essa parceria pois daria chance a nova geração de conhecer o meu trabalho”, explicou.
Para a batucada globalizada do pianista foram convidados nomes tão diferentes quanto Stevie Wonder e Marcelo D2, Gracinha Leporace (mulher de Sergio Mendes e vocalista de seus grupos), o violonista brasileiro Guinga e Justin Timberlake. Para Sergio Mendes, a riqueza sonora dos Estados Unidos e do Brasil permitiam estas experimentações. “O repertório é a base de tudo. Como os músicos que eu convidei souberam assimilar a proposta do meu trabalho, tudo ficou mais fácil”.
