Qual é o valor de um simples carinho

Tárik de Souza lembra três momentos vivido ao lado de João Donato

1 – Quando retornou ao Brasil, em 1973, após mais de uma década nos Estados Unidos, Donato era praticamente desconhecido. Gravou o – hoje – cultuado disco Quem é Quem. Fãzaço de sua música, eu trabalhava no Jornal do Comércio carioca, junto com Flavio Pinheiro, Ronaldo Brito, e uma turma que veio tentar rejuvenescer o vetusto diário de economia. Prometi a Donato que daria uma página inteira ao disco dele. E mandei bala. Amigos do meio musical me contaram depois, que ele andava orgulhoso com o recorte do jornal no bolso, exibindo para todo mundo. “Ele disse que ia me dar a página inteira – e deu!”

2 – No começo de 1982, eu apresentava um programa instrumental, Os Músicos, com Edu Lobo na antiga TVE, hoje TV Brasil. As gravações eram às segundas, de 8 da noite às duas da matina. Donato era o convidado do programa da noite em que caiu um tremendo temporal. Eu olhava da minha janela e via minha rua transformada em rio. Donato tinha a fama de não cumprir compromissos, por isso liguei para consultar Edu. “Vamos encarar o toró, ou deixamos pra lá? O Donato não vai mesmo”. Edu concordou. Mas o tempo passou, a chuva diminuiu e voltei a ver a rua da minha janela. Consultei de novo o Edu: “Vamos até lá ao menos pra marcar presença?” Ele concordou, pegamos um taxi juntos e quando chegamos na TVE, Donato estava na porta de braços cruzados, indignado. “Estou aqui desde as oito horas esperando vocês!”

3 – Em 1986, Donato estava apaixonado por uma moça chamada Leila. Só pensava nela. Como prova de seu amor, queria dedicar-lhe um disco inteiro. Me perguntou que nome devia dar ao álbum. Pensei um pouco e mandei: Leilíadas. E assim saiu o disco com o meu título e as seis odes a Leila numeradas como se fossem opus eruditos. Uma minúscula contribuição à obra do gênio que a bossa nova revelou.