Donato eterno

Fotos: Antônio Carlos Miguel

Amazonas (Keep talkin’) 

A rã (The frog, O sapo)

Até quem sabe

Bananeira (Villa Grazia)

Bluchanga

No apartamento em que viveu no Leblon, com Ivone Belém, em 2005

Não acredito em listas, que se pretendem definitivas. Mas, como recusar o pedido? Cinco quando podem ser 50 de João Donato, que partiu nesse 17 de julho, um mês antes dos 89 anos que completaria em 17 de agosto.

Show no Circo Voador, Rio, agosto de 2014, comemorando 80 anos.

É uma ordem cronológica, pessoal, das primeiras que me capturaram. A inicial, até sem saber que era dele, Keep talkin’. Lançada em 1966 na voz andrógina de Chris Montez, chegou a tocar em rádios brasileiras, em álbum cujo maior sucesso por aqui foi Sunny.

Em maio de 2004, gravação do disco com Bud Shank (saxofone), e participação de Ed Motta (contrabaixo em Black orchid)

Só no fim dos anos 1979, ao juntar trapinhos e discos com K, tive em mãos o adorável Time after time. Foi quando, já um aficionado de Donato, entendi por que razão Amazonas (letrada por Lysias Ênio, e depois também por Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti) sempre soara tão familiar.

Na Urca, em 2013, bairro carioca onde viveu em boa parte do século 21.

Montez é um angelano descendente de mexicanos, que, em 1962 e 63, até fez turnês na Inglaterra com os iniciantes Beatles. Um dos produtores desse LP de Montez, o saudoso Tommy LiPuma contou em sua última vinda ao Rio (para show gravado em DVD de Diana Krall), que se encantara com Amazonas no primeiro álbum de Donato nos EUA, era a faixa de abertura de The new sound of Brazil, 1965, com arranjos de Claus Ogermann. Nem Donato ou LiPumma, no entanto, lembravam de terem encontrado com a autora da letra em inglês, Crystal. PS: procuro contato com Montez há anos. Ele se mantém alive and well, pero, não retornou a recados de amigos em LA, nem a tentativas via seu perfil no Facebook.

Outra que chegou antes da “descoberta” de João Donato, tinha o nome The frog no álbum Look around (1967), de Sergio Mendes & Brasil ’66. Em seguida, O pato, no En Mexico (1970), de João Gilberto, ambas com a língua de batráquios segundo o genial Donato: “Corongondó/ Corongondó/ gondó/ Querenguendé/ Querenguendé/ guendé/ Ganzainguê/Ganzainguê/ inguê/Quiringuindim/Quiringuindim/ guindim/Corongondó”.

Em 2005, com o cineasta espanhol Fernando Trueba, que vai lançar um longa em desenho animado baseado na vida do pianista Tenório Jr, assassinado “por engano “ em Buenos Aires, em 1976. Donato escreveu a música tema, Tenorio.

Mas, foi como A rã, na voz de Gal Costa, com a letra trava-línguas e igualmente genial de Caetano Veloso, que caiu a ficha de quanto especial e original era aquele compositor. A rã era um dos destaques desse que desde então é o meu preferido dela, Cantar(1974), álbum que me apresentou também a Até quem sabe. Esta com a letra que selou a parceria com o irmão Lysias Ênio.

Show com Bud Shank no Rio, em novembro de 2006

Até quem sabe estreara um ano antes em Quem é quem (1973), primeiro disco de Donato com canções. Por insistência de Marcos Valle e do cantor Agostinho dos Santos, a Odeon concordou em gravar um álbum do acreano então radicado em Los Angeles e de passagem pelo Rio, desde que suas músicas ganhassem letras. Muitas das melodias tiveram mais de um destinatário e a que virou Até quem sabe ganhou três diferentes letras, uma de Dorival Caymmi, que votou pela de Lyzias.

Com Bud Shank: após quase cinco décadas, os dois se reencontram no Chivas Jazz Festival, produzido por Toy Lima no Rio e em São Paulo, em 2007

Quem é quem foi ignorado por muitos na época, mas, encantou a Caetano, Gil, Gal, que, após as gravações de Cantar, abriram as portas da Philips/Phonogram para Donato, onde, em 1975, ele lançou o álbum Lugar comum. É nele que a instrumental Villa Grazia, editada originalmente em seu terceiro álbum, A bossa muito moderna… (1963, e gravado nas mesmas sessões do anterior, Muito à vontade, este lançado em 1962), vira Bananeira, com letra de Gilberto Gil.

Também de A bossa muito moderna vem a única instrumental das minha cinco que são muitas mais, Bluchanga. É música que também só conheci após passar a conviver intensamente com o agora lendário João Donato. Antes dessa gravação, pode e deve ser conferida a de 1961, em At the Blackhawk, disco ao vivo do cubano Mongo Santamaria no clube de jazz em São Francisco em que o acreano-carioca-cidadão-do-mundo encontrou a mãe de Jodel, Patricia.

Em novembro de 2007, na época do lançamento do álbum dos Bossa Nova, com Marcos Valle, Carlos Lyra e Roberto Menescal.
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Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

3 pensamentos

  1. Obrigado, Antonio Carlos. Com base no teu lindo texto e depoimento, fiz agora ao vivo (dia 19 à tarde) uma leitura do teu texto, adicionando algumas das músicas. Foi na Radio Deleite.

    Abraços e dei todo o crédito, é claro. Geraldo

    Geraldo Leite geleite@sing.com.br

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    1. Eu que agradeço por espalhar mais Donato por aí. Vou lá conferir. Grande abraço. Keep talkin’!

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