Pablo Fabián lembra sua velha amizade com João Maldonado, músico que no sábado faz show para celebrar quatro décadas de carreira
Para ser lido ao som de João Maldonado em ZAP

Personagem principal
Nome: João Maldonado.
Ocupação: músico.
Data de nascimento: 7 de outubro de 1964, em Erechim, Rio Grande do Sul.
Etnia: Kaingang.
Personagem secundário
Nome: Pablo Alejandro Fabián
Ocupação: escrever sobre João Maldonado e suas notas musicais.
Data de nascimento: 7 de setembro de 1953, em Buenos Aires, Argentina.
Etnia: basco/andaluz.
Cenário 1: O índio da montanha.

Primavera de 2007 e eu acampado num pico nevado de Pucón no Chile. Neve chegando ao joelho, cachoeiras de água gelada e um casal de condores desenhando um voo mágico no céu. Essa era a paisagem. Estava querendo entender qual era a “jogada” de um grupo comandado por um índio Mapuche que promoviam cursos Coaching Xamânico. Como consultor empresarial eu já praticava algo que parecia um coaching e estava em busca de uma batida mais orgânica fora das linhas tradicionais e ortodoxas praticadas no momento. A sensação que eu tinha é que era um bando de “muito loucos” promovendo um lance “careta”. Algo não fechava. Me sentia meio peixe fora d’água. Mas isso é outro assunto.
O importante é que no segundo dia dei de cara com um sujeito meio índio com um sorriso delicioso e isso fez eu passar a gostar daquele circo todo. Colei no índio – ele tinha um daqueles nomes de rebatismo iniciático que não lembro bem. A partir daí comecei a curtir um aprendizado de coisas que eles nem estavam ensinando.
O nome civil do índio era João Maldonado. Com certeza foi o ponto alto de minha aventura nos picos nevados dos Andes. Ficamos amigos. Na sequência chegamos a promover, juntos, alguns encontros xamânicos em Porto Alegre, com Temazcal e outras atividades bem legais do legado Mapuche. João ainda viajou algum tempo nessa vibe, depois se desconectou e voltou a mergulhar com toda sua alma no mundo de música que lhe transbordava do coração.
Cenário 2: 40 de 58 anos.

Vejo a viagem xamânica de João como um período sabático onde, depois de um voo muito intenso pelo rock e blues, ele busca suas raízes dentro da terra com as forças mágicas da terra para ressurgir com toda sua força criativa e harmônica. João completa 40 anos de uma trajetória impecável como guitarrista, pianista, organista, produtor musical e compositor. Começa numa banda de jazz em Florianópolis aos 18 anos, em seguida vem para Porto Alegre, entra na banda TNT e deixa sua marca na história do rock gaúcho. Se muda para o Chile e, em 1998, é reconhecido como o melhor guitarrista de blues daquele país.
De volta a Porto Alegre, em 2019, João lança seu primeiro álbum de Jazz, Beauty, e, em 2020, conquista o Prêmio Açorianos de Música na categoria Disco Instrumental. Numa linha mais minimalista, lança Solitude em 2021 e agora lança 8, gravado ao vivo, parte no Butiá e parte no Espaço 373, nos brindando com oito composições e à frente de um octeto: Amauri Iablonovski (sax alto), Cristiano Ludwig e Diego Ferreira (sax tenor), Dani Vargas (bateria), Gian Becker (trompete), Miguel Tejera (contrabaixo), Nana Sakomoto (trombone). O oitavo elemento é o próprio João Maladonado, ao piano.
O repertório é uma viagem no tempo e nos estilos: uma releitura sensacional de Nunca Mais Voltar, do tempo do TNT, mais músicas dos álbuns Beauty e Solitude, além de Little Man, do repertório de Art Blakey & The Jazz Messengers e Witch Hunt, de Wayne Shorter. Do duo ao octeto com o improviso e a irreverência criativa do jazz.
João Maldonado, paralelamente, se dedica a compor trilhas para espetáculos, clipes e filmes. Assim, meu canal – Motivo de Sobra, no Youtube – abre com a música ZAP de João Maldonado. Espetáculo, né?
