Mais do que fazer um trabalho de recuperação da autêntica música sertaneja, Rolando Boldrin também se destacou por revelar novos talentos
Para ser lido ao som de Rolando Boldrin e Pery Ribeiro em Segredo

A habilidade para contar causos e a generosidade para revelar artistas fizeram de Rolando Boldrin um dos mais simpáticos e carismáticos apresentadores da TV brasileira.
Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, em 1936, Boldrin começou na música ainda criança, formando com um irmão a dupla Boy e Formiga. Mais tarde, mudou-se para São Paulo, trabalhando em rádios e em grupos teatrais. Nome respeitado do cinema (participou do filme Doramundo) e do teatro brasileiro (foi integrante do Teatro de Arena), Boldrin começou a ganhar maior visibilidade a partir do começo dos anos 80, quando passou a comandar o Som Brasil, na Rede Globo.
O programa estreou em agosto de 1981 e era apresentado aos domingos pela manhã. A resposta do público foi tão boa nos primeiros 12 meses que, em setembro de 1982, Som Brasil passou a ter duas horas de duração. Na época, também foi lançado um disco com algumas gravações de artistas que se apresentaram no programa. O tema de abertura, Vide Vida Marvada, composto pelo próprio Boldrin e que falava como a viola tocava forte no seu peito, acabou se transformando num sucesso popular.
Mas o maior mérito do apresentador foi revelar ao grande público artistas que ainda eram pouco conhecidos ou que atravessavam uma fase de ostracismo – como, por exemplo, o poeta e repentista cearense Patativa do Assaré, o músico Ranchinho, que fazia dupla com Alvarenga (que havia falecido em 1978), cantava e contava causos, os violeiros Pena Branca e Xavantinho e os compositores Dominguinhos e Luiz Gonzaga. Mais do que fazer esse trabalho de recuperação da autêntica música sertaneja, Boldrin também se destacou por revelar novos talentos. No auge, o apresentador chegou a receber 300 fitas por semana de todas as regiões do país. Som Brasil era quase todo acústico, valorizando os intérpretes e os instrumentistas e proibindo o playback. O purismo de Boldrin chegou a tal ponto que, certa vez, ele barrou o músico Sérgio Reis por ele estar usando um chapéu no estilo dos caubóis americanos.
Embora tenha durado na Globo até 1989, Som Brasil perdeu muito depois que seu dínamo deixou a atração. Insatisfeito com o horário de exibição, Boldrin saiu do programa, sendo substituído por Lima Duarte. A partir de então, com pequenas variações no formato de sua principal atração, Boldrin passou a peregrinar por várias emissoras, levando o seu programa para a Bandeirantes (Empório Brasileiro), para o SBT (Empório Brasil) e para a TV Cultura (Sr. Brasil). Vai fazer falta.
