Mu Carvalho reafirma a faceta de cancionista em novo álbum, com nove composições inéditas
PS (que vem antes): Compartilho com os leitores de AmaJazz texto de divulgação que fiz sobre disco que, hoje, chega às plataformas. Para ler ao som de: “Je T’aime Tour Simplement”, de e com Mu Carvalho e Gabi Hartmann, canção de abertura do novo álbum do também tecladista d’A Cor do Som
Sem contar os discos de trilhas sonoras e, claro, a obra d’A Cor do Som, “O Mundo é o Meu Jardim” é o oitavo na carreira solo de Mu Carvalho. Neste álbum o pianista, tecladista, compositor, arranjador e produtor foca a veia de cancionista, com nove composições inéditas. Talento para combinar sons e pausas, melodia, ritmo e harmonia que, alternando diferentes letristas, tem gerado grandes canções brasileiras. Como vem mostrando desde o grupo formado no fim dos anos 1970 (até hoje mantendo a formação original) e que, agora, volta a confirmar.
No novo disco, espalhados entre as nove composições, estão dez parceiros. Os saudosos Paulinho Tapajós, Moraes Moreira e Tavinho Paes; companheiros de longa data como Fausto Nilo, Claudio Nucci e Dudu Falcão; ou recentes, Tuca Oliveira e Jonas Myrin; e ainda gente que estreia agora, Gabi Hartmann e Celeste Caramanna.
Para cantar essas nove faixas estão 11 vozes femininas. Por ordem de entrada no disco, elas são Gabi Hartamann, Zizi Possi, Celeste Caramanna, Ana Zingoni, Alma Thomas, Monique Kessous, Vanessa Moreno, o trio SalDoce (formado por Brenda Luce, Fernanda Francis e Mariana Eis) e Lorenza Pozza. Como se percebe, mais uma mescla de gerações e também de sotaques e idiomas: português, francês, italiano e inglês.
Faixa a faixa:

Vivendo entre o Rio de Janeiro natal e Paris, Mu encontrou na cantora e compositora parisiense Gabi Hartmann a pena e a voz perfeitas para a chanson de abertura, “Je T’aime Tour Simplement”. É uma doce canção, na qual a bossa nova é o elo entre os estilos musicais das duas cidades.
Em seguida, “Promessas Mis” é uma das últimas composições de Mu com o velho amigo Moraes Moreira (1947-2020), com quem começou a trabalhar na adolescência. Por sinal, foi junto ao eterno Novo Baiano que a Cor do Som nasceu. Moraes planejava mas não teve tempo para gravar esse samba brejeiro, que remete a Ary Barroso. Para encontrar voz à altura para essa tarefa, Mu recorreu a uma das maiores intérpretes da MPB, Zizi Possi.
Jovem cantora e compositora italiana radicada em Londres, Celeste Caramanna tem muita intimidade com a música brasileira, especialmente a bossa nova, incluindo trabalhos com Roberto Menescal. Mas, na balada romântica “Un’altra Vita”, Mu foi atrás do idioma original de Celeste, em letra que também traz a lírica mão de Dudu Falcão.
Canção mais pop, ou com a cara d’A Cor do Som, no disco, “Aconteceu em Búzios” tem letra de Tavinho Paes (1955-2024), o poeta carioca que tão bem transitou entre o rock e a MPB dos anos 1980 (e contando, até a sua recente partida). Para dar voz a um tema tão precioso Mu recorreu à companheira na vida e na arte, Ana Zingoni, também guitarrista e arranjadora.
Em “You Have a Home”, a letra é de Jonas Myrin, compositor e produtor sueco baseado em Los Angeles. Essa canção tinha sido lançada com letra português (de Tuca Oliveira) em disco de 2021 (“Alegrias de quintal”) e agora volta em sua versão original em inglês. Já a super voz, perfeita para o idioma de Shakespeare e… Stevie Wonder, é de uma estadunidense há duas décadas radicada no Rio, Alma Thomas.
Bem guardada por mais de uma década, “As Pessoas São Pessoas” foi escrita com um parceiro de longa data, Paulinho Tapajós (1945-2013). Esse cantor e compositor carioca também fez parte da musical família Carvalho, casado com a irmã de Mu, a saudosa Heloísa , pesquisadora MPB e produtora musical que nos deixou em 2014. Para interpretar essa música foi escalada Monique Kessous, cantora e compositora carioca que tem se destacado desde a sua estreia, no início dos anos 2000.
Em “Coisas corriqueiras“, Mu promoveu o encontro de um parceiro dos anos 1980, Claudio Nucci (um dos co-autores do clássico “Sapato velho”), com um colaborador mais novo, Tuca Oliveira, cantor e compositor mineiro que tinha mostrado bons serviços no disco autoral “Alegrias de quintal”. A voz, límpida e de técnica admirável, é da paulista Vanessa Moreno, também compositora e instrumentista, e que, na última década, vem renovando a MPB, seja em discos solo ou ao lado de grandes nomes, como Edu Lobo e Roberto Menescal.
Mais vozes novas, ou melhor, novíssimas, do trio SalDoce, colorem a balada luminosa “Pro Amor Entender Melhor”, mais uma parceria com o “pernanbucarioca” Dudu Falcão. O grupo vocal é formado por três jovens cariocas, Brenda Luce, Fernanda Francis e Mariana Eis, que, após uma série de singles lançados a partir de 2024, prepara seu álbum de estreia.
Fechando o disco, “Domingo Novo” é uma terna homenagem a Gal Costa, citada na abertura da letra de outro companheiro fiel desde o início da Cor do Som, Fausto Nilo. Enquanto o canto, suave e precioso, fica por conta de Lorenza Pozza. Nascida em Curitiba e radicada em São Paulo há cinco anos, em sua carreira ela passeia com identidade por jazz, chanson francesa e MPB.
Arranjos e instrumentistas:
Até agora, belas letras e vozes foram o tema dessa resenha, mas arranjos e instrumentação também merecem destaque. Cerca de 40 músicos, o creme de la crème da cena no Brasil (e na França) participaram das sessões de gravação realizadas em cinco estúdios. Cada faixa tem uma formação diferente, adequada ao que cada canção pede. Mu Carvalho (piano, piano elétrico, teclados, sintetizador e arranjos de base) trocou figurinhas com três outros pianistas: Rodrigo Tavares (em “Je T’aime Simplement”), Philippe Powell (em “Un’altra Vita) e Marcos Nimrichter (em “Domingo Novo”). Na cozinha, se alternaram os baixistas Alberto Continentino, Jorge Helder, Gabriel Midon, Lancaster Lopes e Adalberto Miranda; os bateristas Marcelo Costa, Jurim Moreira, Julie Saury e Renan Martins; e os guitarristas e violonistas Dadi Carvalho, Ricardo Silveira, Julio Raposo e Ricardo Rodrigues. Há ainda naipes de sopros (arranjo de Diogo Gomes), cordas (arranjo de Vittor Santos) e pontuais participações de, entre outros, Kiko Horta (acordeom), Sidinho Moreira (percussão), Hugo Pilger (violoncelo) e Robby Marshall (flauta e clarinete).
Mu Carvalho e um time de sonhos, juntos na criação desse jardim musical.
Mu Carvalho em resumo
Caçula de uma família muito musical, até os 15 anos, Maurício Magalhães de Carvalho pensava em fazer Artes Plásticas. Mas, acabou sequestrado pelo piano e pelos temas clássicos tocados por sua mãe. O baixista e guitarrista Dadi, cinco anos mais velho, e mais dois saudosos irmãos, a pesquisadora de MPB Heloísa Tapajós e o produtor musical Sérgio Carvalho, também reforçaram essa paixão. Aos 16, Mu criou o grupo Semente, ao lado de Cláudio Nucci, Cláudio Infante e Zé Luiz. Em seguida, junto a Dadi, acompanhou a Jorge Ben e Moraes Moreira. No primeiro álbum solo de Moraes, nasceu A Cor do Som, que estreou em 1976. O grupo, após idas e vindas, voltou com toda a força e sua formação original no século 21.
Paralelamente ao grupo, Mu trabalhou com diversas estrelas da MPB e gravou seis álbuns instrumentais – “Meu Continente Encontrado” (1985), “O Pianista do Cinema Mudo” (2002), “Óleo Sobre Tela” (2005), “Ao Vivo” (2008), “Elétrico Nazareth” (2013) e “Trem das Cores” (2022) – e agora, após, “Alegrias de Quintal” (2021), lança seu segundo de canções, “O Mundo é o Meu Jardim” (2025).
Ele ainda tem em seu currículo dezenas de trilhas sonoras para o cinema e para a TV, muitas delas também lançadas em disco.
Nos últimos anos, o personagem de perfil renascentista também retomou pincéis, tintas e telas. Quem quiser conhecer a faceta de Mu enquanto artista plástico, que, agora, teve uma tela usada pelo designer Martin Ogolter para ilustrar a capa de “O Mundo é o Meu Quintal”, pode acessar uma exposição virtual em seu site: https://www.mucarvalho.com/paintings. (A.C.M.)
Discografia:
“Meu Continente Encontrado” (1985)
“O Pianista do Cinema Mudo” (2002)
“Óleo Sobre Tela” (2005)
“Ao Vivo” (2008)
“Elétrico Nazareth” (2013)
“Alegrias de Quintal” (2021)
“Trem das Cores” (2022)
“O Mundo é o Meu Jardim” (2025)
