Cantos da África

Micro festival Africanize-se tem sua segunda noite, hoje, no Rio

Jorge Mulumba

Ontem à noite, quem esteve no pequeno e simpático Manouche, pôde conhecer um pouco da música de Angola, com as apresentações de Jorge Mulumba e Jorge Rei do Kuduru. Hoje, a programação do Festival Africanize-se se completa com dois artistas da Guiné-Bissau, Nino Galissa , um mestre da harpa Kora, e Patche Di Rima, anunciado como o “maior nome da música contemporânea do país, que cruza ritmos tradicionais guineenses, como gumbé, tina e singa, com afrobeat, zouk e kizomba, num estilo próprio que batizou de sikó”.

Eles chegaram ao Rio após, na semana passada, terem participado do Festival Se Rasgum, em Belém do Pará. 

Jorge Rei do Kduro

Cantor e instrumentista, Mulumba fez uma didática apresentação, alternando instrumentos percussivos como puíta, hungu, dikanza e ngoma, um destes, como se vê na foto, antecessor da nossa cuíca – que se popularizou no mundo graças a Naná Vasconcelos.  Enquanto o Rei do Kuduru, um dos pioneiros do ritmo que ficou conhecido no mundo a partir dos anos 1990, levou parte da plateia para a pista.  

Sem a contribuição (mesmo que à força) africana o Brasil não seria o que é. Culturalmente,  há exemplos em tudo, especialmente na música. Apesar disso, quase nada da África contemporânea atravessa o Atlântico. E o único exemplo de uma canção africana que fez sucesso entre nós já tem quase seis décadas, “Pata pata”, da cantora sul-africana Miriam Makeba. Lançada em 1967, e tão popular, tocando em todas as rádios, que seu refrão ganhou corruptela, “tá com pulga na cueca, pati pata pa”, assim brincantávamos então.  “Pata pata”, com Miriam Makeba.
Êxito que carregava uma curiosidade e um elo forte com o Brasil, entre os arranjadores e produtores do álbum “Pata pata” está Severino Dias de Oliveira, ou melhor, Sivuca, também o autor de uma das faixas, “Maria Fulô”. “Pata pata” chegou ao Brasil via os EUA, onde ela viveu exilada – e foi casada com o ativista negro Stokely Carmichael. Foram três décadas sem poder pisar em seu país, até o fim do regime de apartheid, no início dos anos 1990. Antes, entre 1987 e 88, Miriam se juntou a Paul Simon e o grupo Ladysmith Black Mambazo para a turnê mundial “Graceland”.
Desde então, se contam nos dedos os artistas africanos reconhecidos por aqui. Quase sempre por tabela, graças a carreiras na Europa, principalmente Portugal e França, casos da cabo-verdiana Cesária Évora e da beninense Angélique Kidjo. Mas, com repercussão menor no Brasil se comparadas ao sucesso de Miriam “Pata pata” Makeba.

O contato mais natural seria com os países luso-africanos. A partir dos anos 1970, Martinho da Vila lançou as bases para isso, incluindo a produção do álbum “O canto livre de Angola” (1982), com diversos artistas angolanos e, em 1984, o festival Kizomba, que trouxe ao Brasil gente também de outros países africanos. Mas, o belo exemplo de Martinho não teve continuidade. Agora, com Africanize-se, temos mais uma chance.

Publicado em ...
Avatar de Desconhecido

Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.