Ao longo de sete décadas – como Benny Carter, Roy Haynes e Yusef Lateef – Roberto Muggiati provou (e vem provando) como o jornalismo sai ganhando com improvisos geniais
Para ser lido ao som de Gil Evans em New Bottle, Old Wine, um de seus discos preferidos

Notar que o meu – vá lá – estilo vem do jazz é um dos maiores elogios que eu poderia receber: saber que o texto nasce do improviso. A alegria aumenta quando este elogio vem de Roberto Muggiati, que entende tudo de jazz e jornalismo, a quem leio há 40 anos e que há quatro me honra com sua amizade e parceria. Hoje ele comemora 70 anos da primeira vez que entrou numa redação. Nesse período, trabalhou no Brasil e no exterior, fez parte das mais importantes publicações brasileiras, entrevistou e escreveu sobre os maiores nomes do jazz e publicou livros fundamentais, como, por exemplo, Improvisando Soluções, que nunca me canso de recomendar. Agora, para marcar a data, recupero uma simples história que reflete bem a capacidade de improviso e o humor refinado de Roberto Muggiati.
Que venham mais 70 anos de alta produção e de jornalismo com qualidade!
“Uma vez, no Yom Kipur, o Dia do Perdão, a redação da Manchete meio apagada, eu falei: ‘Porra, Adolpho, como é essa coisa de Dia do Perdão? Você me perdoa ou me pede perdão?’ Quando era surpreendido, ele ficava sem reação, como uma criança. Aproveitei e pedi um aumento, sob o argumento de que não ganhava à altura do que fazia. Na editora não havia política salarial, cada um defendia o seu salário. Consegui, e estabeleci uma regra: pedir aumento todo Dia do Perdão.”

O Muggiati merece um entrevistão.