Lanny Gordin em dois momentos

Péricles Cavalcanti e Olívio Petit lembram o grande guitarrista que morreu na última terça-feira, no dia em que completava 72 anos

Foto: Wikimedia/Commons

Motor de um universo sonoro

Péricles Cavalcanti

Para ser lido ao som de Lanny Gordin em Duos

Em 2006, meu amigo Glauber Amaral, me convidou para produzir com ele um álbum de Lanny Gordin, com um elenco estelar de artistas com quem ele já trabalhara, anos atrás e outros da nova geração. Estabelecemos que seriam apenas “duos”, com uma sessão de gravação para cada convidado ou convidada e nem nos preocupamos com arranjos, porque sabíamos que o descomunal talento musical de Lanny, daria conta do recado, como, de fato, aconteceu. Glauber cuidou, brilhantemente, de toda a parte da infraestrutura (estúdio, alimentação, transporte etc.) e a mim coube contatar e convidar os artistas, a maioria deles meus conhecidos e amigos de longa data. E todos participaram com enorme entusiasmo, fãs que eram de um dos maiores e mais importantes instrumentistas do país. Foi assim que surgiu Lanny Duos (2007) que contou com Gilberto Gil (na época, ministro da Cultura), Adriana Calcanhotto (que além de participar, presenteou Lanny com a guitarra que ele usou nas gravações), Caetano Veloso (que fez o contato com a gravadora Universal), Gal Costa (a única gravação feita na Bahia) Vanessa da Mata, Chico César, Fernanda Takai, Arnaldo Antunes, Max de Castro, Jards Macalé, Zeca Baleiro, Edgard Scandurra, Junio Barreto e Rodrigo Amarante, além de mim próprio, atendendo a um pedido de Glauber. Vale observar, que a genialidade de Lanny, que em poucas horas, à cada dia, gravava uma faixa, além da guitarra, ainda tocava baixo elétrico. Todos ficávamos encantados com a maneira ágil, natural e profunda como ele desenvolvia as harmonias, as “levadas” e os solos, tudo rapidamente. Enfim, foi um prazer e um orgulho participar desse álbum que foi muito mais que uma homenagem a esse grande artista da música, pois ele próprio foi o centro, a razão e o motor de todo aquele universo sonoro.

Sacrifício em busca da liberdade total

Olívio Petit

Para ser lido ao som de Lanny Gordin em Lanny’s Quartet & All Stars

Faleceu o guitarrista Lanny Gordin, o chinês mais brasileiro de todos os tempos. Lanny era um mito para garotada que chegou ao mundo real embalada pelo Tropicalismo. A guitarra do Gal Fa-tal, a loucura do Araçá Azul, os solos que alimentavam Gil e Macalé. Houve um tempo em que corria à boca pequena, que ele teria queimado as mãos, propositalmente. Até hoje não sei se é verdade. Era um tempo em que as guitarras eram quebradas e queimadas em palco. O sacrifício em busca da liberdade total, em rituais de oferenda milenares, em contraste com a tal modernidade. Meu amigo Buda, que fez a minha cabeça naqueles tempos transformadores, indica o Lanny’s Quartet & All Stars, com participações de Sergio Dias, Edgard Scandurra, Pepeu Gomes e Luiz Carlini. Há também o documentário Inaudito, de Gregorio Gananian, que estará liberado por um mês, na Embaúba Play.

Que tenha paz. Se achar necessário…

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