Começo do caminhar

Revigorado pela temporada americana, João Donato lançava um disco em que arranjos pela primeira vez eram todos assinados por ele

Para ser lido ao som de João Donato em Lugar Comum

Lançado em 1975, este disco levava apenas o nome do compositor, mas ficou conhecido com o título informal de Lugar Comum, faixa de abertura do antigo LP, o segundo em que o músico – recém-chegado dos Estados Unidos – se arriscava a colocar letra e a cantar as próprias composições.

A história de Lugar Comum (a canção) é tão bela quanto singela: um homem numa canoa, descendo o Rio Acre, assobiou uma melodia, ouvida por um menino que estava na margem. Décadas depois, o menino, já conhecido como o pianista e compositor, aproveitou aquelas notas e compôs Índio Perdido, que depois ganhou letra de Gilberto Gil e virou Lugar Comum. Além de Gil, o disco inclui parcerias com Caetano Veloso, em canções como Bananeira, Emoriô e Naturalmente.

Revigorado pela temporada americana, quando tocou e gravou com Mongo Santamaria, Tito Puente e Bud Shank, João Donato se sentia também mais seguro para dar às inspiradas melodias e letras, os arranjos que pela primeira vez eram todos assinados por ele. No encarte, Donato confessa que, na época, lembrava muito do seu amigo, o maestro Laércio de Freitas, um de seus principais incentivadores. “Ficava na dúvida sobre uma frase musical e perguntava: Laércio, é melhor isso ou isso? Ele respondia simplesmente: Acredita!”.

Outro incentivador recordado por Donato é o cantor Agostinho dos Santos. Foi dele a ideia de colocar letras nas músicas de Donato (“Senão ninguém cantava, ninguém gravava”). O compositor lembra, inclusive, como fez cada uma das músicas. Bananeira, por exemplo, veio de um improviso de Gil, assim como Tudo Tem (“Falei pra ele: ‘Essa não tem letra’. E ele na mesma hora respondeu: ‘Tem, tem, tem, sempre tem, jeito tem, tem'”).