Em setembro de 1991, eu estreava oficialmente fazendo a cobertura em festivais de jazz, com crachá e tudo. Musicalmente, me dei bem
Para ser lido ao som de Dizzy Gillespie & United Nation Orchestra em Tin Tin Deo

Eu já havia ido na plateia a duas edições anteriores – as de 1988 e 1989. A de 1990, por problemas de patrocínio e falta de apoio do governo Collor, não foi realizada. Então só em 1991 eu estrearia oficialmente em festivais de jazz, com crachá e tudo.
Enviado pela Zero Hora, eu ficaria hospedado a meio caminho entre o local dos shows, o falecido Hotel Nacional, e a Rocinha. A sala de imprensa também ficava no hotel. Assim, depois de ver os shows à noite (e de ter participado das coletivas à tarde), no dia seguinte eu acordava, tomava café, saía do meu hotel, ia para o Nacional, escrevia os textos (numa máquina de escrever) e enviava a Porto Alegre por um moderníssimo fax. O texto seria lido quase dois dias depois dos acontecimentos. Agilidade era isso.
Musicalmente, me dei bem. O Free Jazz Festival em sua sexta edição abriria naquela noite, 18 de setembro de 1991, com Dizzy Gillespie à frente da United Nation Orchestra, uma big-band panamericana reunindo o que havia de melhor entre músicos latinos – Mario Rivera, Giovanni Hidalgo, Paquito D’Rivera e apenas um brasileiro, o trompetista Cláudio Roditi – outros dois conterrâneos, Flora Purim e Airto Moreira, se negaram a integrar o grupo que excursionaria.
Nessa época não havia “palcos”, tendências, estilos discriminados. Eram todos acomodados no mesmo espaço, com em média três atrações por noite, cada qual com cerca de uma hora para dar o seu recado. Os intervalos eram a senha para que o saguão lotasse, os shows fossem comentados e o público – em sintonia com a época e com o patrocinador – fumasse.
A noite de Dizzy Gillespie foi aberta pelo quarteto do pianista João Carlos Assis Brasil, com Zeca Assumpção (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria) e Paulo Sérgio Matos (sax soprano e clarinete), num tributo ao irmão do pianista, o saxofonista Victor Assis Brasil, tendo como gancho o décimo aniversário da morte do músico.
Assis Brasil foi seguido pelo então pouco conhecido Little Jimmy Scott, uma figura estranha que cantava com voz semelhante à das antigas cantoras de blues e fazia gesticulações igualmente pouco convencionais.
Já a orquestra de Dizzy Gillespie foi a grande atração, não apenas da noite, mas de todo o festival. Duas horas de um show de alta octanagem e com longos espaços para solos individuais. Um resumo das já então mais de cinco décadas que o trompetista dedicava ao jazz.
O meu primeiro festival começou bem e terminou bem. Os únicos pontos baixos foram o já citado Little Jimmy Scott e o saxofonista Grover Washington Jr. Grandes acertos foram Albert Collins, Dr. John e o septeto de Wynton Marsalis. Os dois últimos, inclusive, foram mais fracos na etapa carioca (a que acompanhei) do que na paulista. A explicação: fizeram seus shows com os olhos no relógio, já que estavam com viagens marcadas para os Estados Unidos. Gostei ainda – num nível abaixo – das apresentações do tecladista Joe Zawinul, do show que Jimmy Smith dividiu com Kenny Burrell e, ainda, do ótimo quarteto liderado pelo recentemente falecido Ahmad Jamal.
Um detalhe, como o que foi lembrado pelo Antônio Carlos Miguel: na época do Free Jazz Festival a categoria “ir ao evento (independente da música)” já existia. Era composta por celebridades, subcelebridades e anônimos que passavam mais tempo no saguão do que na plateia. Outra mudança substancial: os ingressos para cada noite, com em média três shows, custa Cr$ 15 mil, algo equivalente hoje a R$ 400. Uma barbada!

Ja não se fazem festivais de musica como antigamente… agora tem palco pra tudo.
Otimas lembranças