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Perinho Albuquerque foi decisivo em muitos momentos da MPB. Até que largou tudo e foi construir barcos

Para ser lido ao som de Caetano Veloso em For No One, com Perinho Albuquerque na guitarra

A música brasileira é rica em exemplos de artistas de grande valor que nunca receberam o devido reconhecimento. Um exemplo? Perinho Albuquerque.

Você não sabe, mas é possível que você o conheça e – mais! – tenha uma grande dívida musical com ele. Personagem quase invisível muitas vezes ele era ofuscado pelo irmão, Moacyr, ou por outro Perinho, o Santana, igualmente presente em muitos discos de Caetano Veloso, Luiz Melodia e Gal Costa.

Foto: Reprodução

Nascido Péricles de Albuquerque, em abril de 1946, o baiano, de Salvador, desde cedo foi chamado de Perinho, antes de alcançar a maioridade já estava envolvido com a música. Em 1964, ele participou dos shows Mora na Filosofia, de Maria Bethânia, com direção de Caetano Veloso, Inventário, de Gilberto Gil, e Cavaleiro, de Caetano Veloso. Era uma época em que todos atuavam ainda em Salvador.

Logo depois, já morando no Rio de Janeiro, Perinho participou dos discos Drama (1972), de Maria Bethânia; e Araçá Azul (1972), de Caetano Veloso, ambos como arranjador e instrumentista; Caetano Veloso e Chico Buarque – Juntos e Ao Vivo (1972), como instrumentista; e Drama 3º Ato (1973), de Maria Bethânia, como produtor musical.

Personagem central na produção de Pérola Negra – são dele os nove dos dez arranjos do disco – Perinho Albuquerque, depois de gravar o primeiro disco de Luiz Melodia, continuou ativo atuando como produtor musical de discos como Gal canta Caymmi (1976), de Gal Costa, ou ainda como arranjador, instrumentista e/ou produtor musical de Gilberto Gil Ao Vivo (1974) e de Refazenda, ambos de Gilberto Gil, de Pássaro Proibido (1976) e Pássaro da Manhã (1977), de Maria Bethânia, como arranjador, instrumentista e produtor musical; e novamente estaria ao lado de Gal Costa em Caras e Bocas (1977).

Perinho teve ainda uma participação decisiva em Sinal Fechado (1974), álbum apenas com músicas de outros autores, que Chico Buarque lançou para fugir da ação da Censura, além das gravações ao vivo de Maria Bethânia e Chico Buarque no Canecão (1975), Maria Bethânia e Caetano Veloso Ao Vivo (1977) e do show-turnê-disco Doces Bárbaros (1976), com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil. Por fim, Perinho produziu, em parceria com Caetano Veloso, a trilha sonora do filme Índia, Filha do Sol, dirigido por Fábio Barreto, e se envolveu com Álibi (1978) e Mel (1979), dois dos melhores e comercialmente mais bem sucedidos títulos da discografia de Maria Bethânia.

Mas apesar de todo esse alto conceito artístico, Perinho, a partir do começo da década de 80, foi progressivamente se afastando da música. Fundou, em Salvador, o Estaleiro Perimar, e passou a se dedicar com exclusividade ao exercício da arquitetura naval em parceria com seus filhos. Nem mesmo amigos e antigos parceiros musicais tinham contato com ele. E qualquer tentativa de entrevista sobre esse assunto era desencorajada pelos que o cercavam.

Esse silêncio musical se manteve até o dia 15 de agosto de 2025, quando Perinho morreu. Aos 79 anos, ele estava internado há cerca de um mês depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral. A causa da morte foi um infarto. Sobre Perinho, Caetano escreveu em suas redes sociais: “Ele foi meu companheiro e guia musical por muito tempo. Depois se afastou da música profissional e passou a fazer barcos e lanchas. Perinho, grande músico brasileiro”.

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Autor: Márcio Pinheiro

Jornalista, roteirista, produtor cultural

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