Piti de Bethânia no penúltimo show com Caetano não seria novidade para quem já trabalhou com a ‘passional’

Não estive lá, no último sábado, 15 de março, na volta da turnê de Caetano e Bethânia ao Rio. Afinal, na intragável Farmasi Arena basta uma dose. Portanto, o gancho para esse artigo vem de comentários nas redes e na imprensa e vídeos sobre o incidente. Em síntese, a diva de pés descalços subiu nos tamancos, interrompendo “As canções que você fez pra mim”, uma das músicas de sua parte solo no show em dupla com o irmão quatro anos mais velho: “Tudo errado. Não dá para cantar com esse som. Não vou cantar com esse som”.
O que aumenta a expectativa pelo espetáculo de encerramento, no sábado 22 de março, em Porto Alegre, na Arena do Grêmio.
Mas, problemas de som não faltaram na estreia, dia 3 de agosto, no mesmo ginásio herdado dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e também utilizado para diversas modalidades esportivas na Olimpíada de 2016. Como alertei no início, não tenho detalhes sobre o que aconteceu no sábado, mas, jogar a culpa em técnicos e músicos, como parece ter feito a “passional”, não é o mais justo. O correto seria Bethânia, Caetano, seus muitos assessores/empresários e a Live Nation Brasil, empresa responsável pela turnê, terem procurado outro local. Ou novas soluções para um lugar que pode funcionar para vôlei, basquete e similares, mas, é notório pela péssima acústica.

Como grande parte da imprensa, dei pouco destaque aos problemas sonoros na estreia, em agosto, quando postei fotos aqui em AmaJazz, ou também na reportagem para a “Billboard Brasil” que foi uma das capas da revista em sua edição de outubro. O título veio de uma resposta de Caetano, em entrevista feita por email (enquanto Bethânia preferiu enviar uma breve mensagem de áudio):
“Sempre juntos e tendendo para as mesmas atividades, sempre fomos muito diferentes. Bethânia é passional e eu sou equilibrista.”

Pode soar como frase de efeito, já que, através da carreira, o irmão mais velho sempre foi quem abusou de pitis no palco, mas, se confirmou agora. Nas internas, sobram relatos de músicos, produtores, técnicos sobre a forma tirânica, muitas vezes desrespeitosa com que a mana Bethânia trata seus subordinados. O que nos leva a outra questão: a forma submissa ou condescendente demais com que, nós, jornalistas especializados em cultura muitas vezes tratamos os criadores. Há que se diferenciar o artista e o ser humano, mas, independentemente do grau de excelência artística de cada um, quando as más atitudes derem a cara não podemos passar pano.

Coincidentemente, percebo que nesse 17 de março, Elis Regina estaria completando 80 anos. Não por acaso, apelidada de Pimentinha, personalidade pra lá tempestuosa, e, nos quesitos técnicos, a maior cantora popular que o Brasil já teve. Nos anos 1970, sob a ditadura nada branda, na cultura, as polarizações eram diferentes e, em boa parte, artificiais. Entre outras, Gal versus Elis (e esta também versus Nara). Um reconvertido à MPB na adolescência via Tropicália, na época ainda torcia pelo time Odara, mas, aos poucos entendi que esse flu-fla não leva a nada. Passei a adotar a máxima de um jornalista que sempre admirei quando, em uma roda na qual a disputa era Billie versus Ella versus Sarah, desferiu: “A melhor é a que estou ouvindo no momento”. Ainda sobre essa “polímica” (copyright para outro, o verdadeiro exagerado Ezequiel Neves) da década de 1970, os discos que Nana fez com os irmãos Caymmi e ainda Tom, Donato, Novelli, Horta, Robertinho, Luiz Alves… continuam no topo de minha lista. Sim, a cantora “uterina” que, influenciada pela filha olavista, tinha virado bolsominion.
PS: Faltava uma foto da aniversariante do dia, que, raramente encontrei/entrevistei. Daí apelar para um dos grandes discos que ela fez nos anos 1970.
