Free jazz num mundo em que a música está presa

Grupo de Nova York, Amirtha Kidambi’s Elder Ones faz shows no Rio e em São Paulo

Amirtha Kidambi’s Elder Ones / Divulgação: Jordan Reyes

O modelo de megas (e grandes, médios…) festivais e shows dá sinais de esgotamento após a euforia pós Covid. Preço de ingressos anda além do aceitável e programação tem se pautado pela obviedade (os suspeitos de sempre,  num misto de sucessos da hora, tributos, shows de despedida, encontros, nostalgia…). Daí sair de meu ócio para saudar banda que desconhecia: Amirtha Kidambi’s Elder Ones. Chega ao Brasil para mini turnê, participando dia 8 de julho, às 22h, no micro Audio Rebel (Rua Visconde Silva 55, Botafogo), do Festival Mulambo Jazzagrário. Em seguida, vai para São Paulo, nos dias 9 (Sesc Jundiaí) e 10 (Sesc Avenida Paulista).

Boa oportunidade para conferir uma vertente contemporânea do free jazz que tem entre suas referências Alice Coltrane. Troque a harpa da última companheira de John Coltrane pelo harmônio de fole manual usado pela também cantora Armitha para ter uma noção do que ouvirá.

A família da líder dos Anciões vem do sul da Índia, mas, cresceu e estudou em Nova York. Ligada à música clássica contemporânea experimental,  ela migrou para o free jazz, nessa vertente consolidada por Coltrane no álbum   A love supreme. Armitha canta acompanhando-se por um instrumento milenar na Ásia em geral, e que chegou à Europa no século 18, onde foi modificado até virar uma espécie de órgão portátil (daí também ser chamado de órgão de fole). Em seu último disco, New Monuments (lançado em março desse ano), o grupo é completado por Matt Nelson (sax soprano e efeitos), Lester St. Louis (cello e eletrônicas), Eva Lawitts (baixo e efeitos) e Jason Nazary (bateria e sintetizador modular). Mas, pela foto de divulgação aqui reproduzida é provável que a formação dos shows no Brasil – e em mais dois países sul-americanos, Equador e Colombia – seja outra. O que não deve mudar muito a coisa. 

Ao surgir, em fins dos anos 1950, o free jazz expandia, ou explodia, os limites do gênero. Pegando carona na tese do Caetano tropicalista, avançava na linha evolutiva-vanguardista do gênero nascido em New Orleans. Grosso modo, sequência que passou por, entre outros subgêneros, Dixieland, Jungle, Swing, Bebop, Cool, Hardbop… No início dos anos 1970, o free jazz teria chegado a um beco sem saída. Similar ao que aconteceu na arte conceitual após Duchamp ou no abstracionismo após Pollock. 

Alguns pioneiros do gênero – Ornette Coleman, Cecil Taylor, Sun Ran… – prosseguiram, novos se juntaram, incluindo artistas da Europa, mas, boa parte migrou para tendências menos radicais. Entre estas, a do jazz rock ou fusion, que teve em Miles Davis o nome mais emblemático, em meio a gente que passou por suas bandas como Weather Report, John McLaughlin e Chick Corea.

Mesmo considerado carta fora do baralho do mercado da música, o free jazz continuou. Com apelo para poucos. Amirtha Kidambi’s Elder Ones é mais uma prova disso. 

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Autor: Antonio Carlos Miguel

Amador de música desde que se entende por gente. Jornalista, fotógrafo especializado no mundo dos sons combinados.

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