Para lembrar Tony Bennett

Cantor passou os últimos tempos convivendo com o Alzheimer, que fazia desaparecer as canções que sempre existiram em sua cabeça

Para ser lido ao som de Tony Bennett em I Left My Heart In San Francisco

Tony Bennett, um dos maiores cantores de todos os tempos, que morreu no dia 21, aos 96 anos, passou os últimos tempos convivendo com o Alzheimer. A memória esvaia a cada dia e aos poucos iam sumindo as canções que sempre existiram em sua cabeça.

Ele não se lembrava mais, mas eu me lembro: há 11 anos, um Tony Bennett envolvente e vibrante abriu, numa noite de quarta-feira, no Teatro do Sesi, a etapa de sua então última turnê brasileira. Acompanhado pela herdeira musical, Antonia Bennett, Tony entrou em cena aplaudido de pé. E o que se viu nos 90 minutos seguintes de um show enxuto, objetivo e emocionante foi a compensação de uma aguardada espera.

Eu me lembro também que Tony Bennett tinha uma elegância sóbria que se contrapunha a um repertório explosivo. No show, ele recordou quase todas as fases de seus mais de 60 anos de carreira, privilegiando clássicos consagrados que marcaram o cenário musical no século 20 como The Good Life, For Once in My Life, The Way You Look Tonight e a confirmadíssima I Left My Heart In San Francisco.

Me lembro ainda que Tony Bennett foi um líder generoso, que se renovava no convívio com os parceiros musicais e, por isso mesmo, sabia abrir espaço para solos de todos os seus instrumentistas, um quarteto formado por Lee Musiker (piano), Gray Sargent (guitarra), Harold Jones (bateria) e Marshall Wood (baixo).

Por fim, eu me lembro que Tony Pai e Tonia Filha, lá pelo encerramento do show, passaram a dividir o microfone em I’ve Got My Love To Keep Me Warm, momento único em que os dois ficaram em cena, pois, imediatamente depois, o patriarca reassumiu sozinho o comando da noite e mostrou tudo o que sabia. A disciplina e a rígida formação, aperfeiçoada em aulas de canto lírico, davam a ele a segurança para chegar aos 83 anos em plena forma, segurando até uma versão a capella, sem microfone, de Fly Me To The Moon.

Por tudo isso, eu fiquei mais tranquilo, pois Tony, mesmo nesse seu mundo sem memória que o tal Alzheimer o aprisionou, continuaria sendo lembrado por mim e por muitos outros. Para sempre.

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Autor: Márcio Pinheiro

Jornalista, roteirista, produtor cultural

2 pensamentos

  1. E lá se foi o último dos pesos pesados de grande voz dos standards americanos. Irá se juntar a outros tantos: Frank Sinatra, Nat King Cole, Sammy Davis Jr, , Dean Martin, Ray Charles e tantos outros que trabalharam como crooner à frente de orquestras e grupos menores. Ficará na nossa memória. O seu legado é enorme. Que Deus o tenha.

  2. Para estas almas evoluídas não há morte. Apenas é uma mudança de estado, assim como a água que se evapora. O corpo é só a casca da fruta

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