“Quantos existem dentro de Chico Buarque?”, perguntava um espantado Julio Cortázar diante da multiplicidade e da densidade de um criador que antes dos 30 anos já havia se tornado imortal. Um autor que, ao se rebelar contra a “unanimidade nacional” em que se transformara, paradoxalmente passou a ser mais amplo, atingindo diferentes classes e gerações.
Antena da raça, mais completo repórter de seu tempo, o Chico Buarque que hoje chega aos 74 anos comprova que se nos últimos tempos ele perdeu a capacidade de produzir em linha de montagem, tem se revelado atualmente um artesão paciente e elaborado. A riqueza poética é a mesma, aperfeiçoada pela sutileza, pelo rigor e pela exigência. O lirismo denso e o estilo elíptico ainda permeiam sua obra. E se, nos anos 70, precisava tergiversar para dizer o que pensava – fossem denúncias políticas ou desilusões amorosas -, Chico envelhece com a sabedoria de quem sempre soube o que anda na cabeça, anda nas bocas – e do que não tem censura nem nunca terá.
A seguir, seis músicas que mostram que Chico Buarque também é jazz:
Brad Mehldau – Samba e Amor
Chet Baker – Zingaro (Retrato em Branco e Preto)
Nelson Ayres & Orquestra Jazz Sinfônica- Bye, Bye Brasil
Stefano Bollani – Samba e Amor
Toots Thielemans & Chico Buarque – Joana Francesa
Willie Colon – O que será?
A foto que ilustra esta página é de autoria de Ricardo Chaves, o Kadão, um fotógrafo superlativo em todos os sentidos: grande fotógrafo, grande pessoa, grande amigo. O registro é dos anos 70, quando Chico veio a Porto Alegre para uma apresentação e – obviamente – arranjou um tempo para jogar futebol e saborear uma água mineral Santa Catarina (em garrafa de vidro e com gás).