Let’s groove!

Lucio Brancato* recupera parte da fase funky de Herbie Hancock à frente dos Headhunters

Para ser lido ao som de Head Hunters, de Herbie Hancock
Foto: ICM-International Creative Management/Domínio público/Wikimedia Commons
Cabeças eletrônicas: o chefão Herbie sentado na cadeira e cercado por Summers, Clark, Jackson e Maupin, com o bass clarinet (Foto: ICM-International Creative Management/Domínio público/Wikimedia Commons)

O jazz a partir dos anos 70 começou a se mover em muitas direções e um dos caminhos que poucos resistiram foi a influencia da black music americana cheia de groove. James Brown e seus JBs, Sly e sua Family Stone, além do auge dos filmes Blaxploitation nos cinemas, foram fundamentais para inserir nos mais diversos gêneros uma pegada cheia balanço. Dizzy Gillespie abre o baile black da década com The Real Thing (1970), Miles Davis surge com On The Corner (1972) e J.J. Johnson se aprofunda nas trilhas de cinema black com Cleopatra Jones (1973).

Mas foi em outubro de 1973 que o groove tomou conta do jazz de uma maneira mais popular e de grande sucesso comercial. Herbie Hancock junta uma turma de grandes músicos e cria os Headhunters. Depois de um forte experimentalismo flertando com o jazz rock e com o avant-garde, Hancock começa a explorar ainda mais o uso de teclados elétricos e sintetizadores.

Além de Hancock nos teclados, os Headhunters tinham nos sopros Bennie Maupin (que entre outros instrumentos trouxe para o baile o curioso Bass Clarinet), Paul Jackson o baixo elétrico, Harvey Mason na bateria e Bill Summers nas percussões. Foi com esta formação que o disco foi gravado e chegou nas lojas fazendo do álbum um sucesso em vendas até hoje do catálogo de jazz da Columbia (mais de 1 milhão de cópias vendidas) puxado principalmente pelo sucesso imediato das duas faixas do lado A, Chameleon e Watermelon Man. O lado B apresenta mais duas faixas, Sly (obviamente homenagem a Sly Stone) e Vein Melter. São quatro faixas que sintetizam (também pelo uso de sintetizadores) a marca do groove setentista no jazz. Faixas longas ainda sob a influência recente das longas viagens do jazz-rock e do avant-garde que atravessaram décadas sendo usadas em samplers da turma do hip-hop do começo dos anos 80.

Quase um ano depois, em setembro de 1974, saia um segundo registro dos Headhunters. O disco Trust apresenta novamente a forte fusão do jazz com o Funk colocando mais veneno com o uso do teclado Clavinet percorrendo as quatro músicas do álbum. Na formação, uma mudança. Entra em cena o baterista Mike Clark dando uma pegada ainda mais funk e rock no grupo. O novo lançamento não segurou a inquieta criatividade de Herbie Hancock, que abandonou os Headhunters para seguir lançando álbuns com seu nome. Porém, o grupo resolveu seguir em frente lançando já sem o seu maestro o disco Survival of the Fittest (1975) trazendo o hit God Make Me Funky

Os Headhunters lançaram ainda o disco Straight From the Gate (1978) já sem o impacto dos álbuns anteriores e em 1998 Hancock volta ao grupo para lançar Return of The Headhunters, um reencontroo sem grande sucesso e com Herbie Hancock participando em apenas quatro das onze faixas do disco.

Mike Clark, Paul Jackson e Bill Summers continuaram gravando e se apresentando nos anos seguintes como Headhunters chegando a lançar em 2010 o álbum Platinum com participações de músicos do hip-hop como Snoop Dog e o maluco do groove George Clinton. A “Headhunters Saga” foi atualizada em maio deste ano com o lancamento pelo selo Vogon de um disco ao vivo gravado em 1974 e que já esta disponível nas plataformas de streaming levando para toda uma nova geração as novas cores que o funk trouxe para o jazz.

* Lucio Brancato é roqueiro, jornalista e conselheiro da AmaJazz. Apresenta o “Cultura na Mesa” e o “Cultura Rock Show”, pela FM Cultura 107.7

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